23 de janeiro de 2013

Da unidade


“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo creia que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.” Jo 17:22-23

“esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; Ef 4:3-4

“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,”  Ef 4:13




            A unidade da igreja, a oração de Jesus por todos aqueles que foram separados por Deus, Seus santos, a raça eleita, o povo de propriedade exclusiva Dele (Jo 17:9-24; 1 Pe 2:9), é um tema sempre presente, seja nas conversas entre irmãos, nas ministrações da Palavra  e, claro, em nossas orações. Faz algum tempo, tenho refletido, lido e orado a este respeito, em busca de discernimento do que é unidade aos olhos do Pai. Estas reflexões, publico aqui hoje.
            Os três textos que citei acima, são onde a palavra “unidade” aparece nas Escrituras, sendo que, no texto de João, a expressão traduzida por “unidade” não é a mesma que encontramos no capítulo 4 da carta de Paulo aos Efésios. Em João, a palavra é heis, que significa “um”, o numeral mesmo. Em Efésios, a palavra é “henotes”, esta sim, significando unidade. Existem várias outras referências no NT, indiretas ou usando termos correlatos, à necessidade de que a igreja seja unânime, mas hoje vou me concentrar nestas expressões, traduzidas para o português como “unidade”.
            Paulo fala aqui em duas expressões da unidade, uma, já pronta, que cabe à igreja preservar, a unidade do Espírito; outra para a qual caminhamos, e deveremos chegar, a unidade da fé, que creio ser o objeto da oração de Jesus, onde Ele pede que sejamos “aperfeiçoados na unidade”.
            Unidade de Espírito é inerente à igreja. Toda a igreja nasceu da água e do Espírito, ou não estaria dentro do reino de Deus (Jo 3:5). Não há irregenerados na igreja do Senhor. Pode até haver, e creio mesmo que há, irregenerados nas assembleias de homens, mas na igreja do Senhor já há unidade de Espírito. A ordem que nos é dada, através de Paulo, é que nos esforcemos para preservá-la.
            Unidade de fé é algo que perseguiremos até o fim da nossa caminhada, como diz a Palavra, até chegarmos à perfeita varonilidade. Esta unidade é construída na caminhada de cada remido com o Senhor, no desenvolvimento do serviço de cada santo, através da comunhão de cada um com Jesus, e também através dos ministérios que Ele mesmo estabeleceu para este fim (Ef 4: 11-12).
            Até aqui nenhuma novidade. Está claro nas Escrituras. O que não entendo é porque insistimos, muitas vezes, em um conceito de unidade que é diferente destas duas expressões? Aonde está escrito que unidade significa uma única congregação em cada localidade? Aonde está escrito que unidade se resume a estarem todos debaixo de uma mesma autoridade terrena (às vezes sem sequer estarem todos debaixo da mesma autoridade celestial...)?
            Ora, caros leitores, a igreja do Senhor (eu disse, do Senhor!) já é uma. Está toda coberta pelo mesmo sangue, habitada pelo mesmo Espírito. Nenhuma das suas limitações, dificuldades, pecados eventuais, nada disso é desconhecido de Deus. O Senhor não se surpreende quando erramos, nem se decepciona quando cometemos qualquer deslize. O Senhor foi quem nos deu a fé, Seu Espírito Santo é quem nos leva ao arrependimento. É escolha Dele, nunca mérito nosso, fazer parte da Sua igreja.
            Dito isto, então, o que sobra para nós? Sobra para nós, caminhar Nele, sermos fiéis estudiosos da Sua Palavra, guardar os Seus ensinamentos. Sobra para nós a prática do mútuo serviço, a mútua exortação, sempre baseada na Palavra, colocando em plano secundário nossos usos e costumes, em favor daquilo que está claramente definido como princípio de Deus. Sobra para nós abrir mão da nossa cultura eclesiástica, em favor da comunhão com outros santos.
            Precisamos esquecer esta ideia de que unidade consiste nas perdas de características individuais para que todo mundo seja igual. A analogia usada pelo Senhor foi a de um corpo, onde seus membros diferem em aparência, função, forma, tamanho e, para serem um, não perdem estas diferenças, antes trabalham, cada qual exercendo o seu papel, sob um mesmo governo, seguindo a mesma direção. A Bíblia fala sempre em vínculos, nunca em misturas.
            Servindo ao Senhor hoje na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, sou parte da igreja do Senhor nesta cidade. Tenho sim (e como sou grato a Deus por isso) os meus vínculos de relacionamento e sujeição aqui, mas, tenho também unidade de Espírito com todos os regenerados por Cristo, em todas as congregações, e caminho, na Palavra, para que cheguemos juntos à unidade da fé. Desejo me esforçar com mais diligência para preservar a unidade que já existe, evitando contendas, corrigindo meus irmãos, e aceitando a sua correção, sempre debaixo da autoridade das Escrituras. E para isso preciso a cada dia me despir da minha justiça própria, da minha arrogância espiritual e colocar o meu coração, sempre enganoso, subjugado à autoridade de Cristo em minha vida.
            Vejam bem, esta não é uma apologia ao corporativismo evangélico, que é, a meu ver, mero partidarismo, tampouco acho que tudo que fala em nome de Jesus é igreja, que todo que se diz batizado foi mesmo regenerado, que todo “crente” é cristão. Precisamos mesmo parar de chamar denominação de igreja. Precisamos, sim, expor as heresias absurdas propaladas por algumas instituições religiosas. Precisamos sim, ter critério quanto ao que lemos, vemos e ouvimos, principalmente se traz o famigerado rótulo “gospel”. Precisamos lembrar que a unidade da igreja trata de pessoas, transcende prédios. Precisamos fortalecer os laços interpessoais, ao invés das bandeiras institucionais. Precisamos, mais do que tudo, conhecer a Cristo, conhecer a Verdade, estudar diligentemente as Escrituras, lê-las diariamente, orar com fervor, estudar a nossa história (sim, a história da igreja é a nossa história. Há um só Espírito, lembram?).
            Para concluir, lembro a finalidade da oração de Jesus em favor do nosso aperfeiçoamento na unidade: o mundo crer que Deus O enviou e nos amou! Será mesmo através da nossa fé, aperfeiçoada, a cada dia, que o mundo crerá. Devemos ter em mente que o anúncio do Evangelho é meio de graça, que nenhum de nós sabe o que e como o Espírito Santo está operando em cada indivíduo, e só sabemos quem Deus escolheu quando a eficácia do chamado é manifesta, logo, temos que ter compaixão de todos, e proclamar a todos as boas novas. E isso é um ato de fé. Não se trata de ter fé no nosso próprio empenho, eloquência ou carisma, mas fé no Rei que anunciamos, fé que Ele vai cumprir toda a Sua vontade (Is 46:10). Não há maior prova de que eu verdadeiramente experimentei o amor de Deus que o meu empenho em anunciar o Seu Nome, o Seu governo, a Sua obra e a Sua volta!
           
            E Ele vem!!

            E vem sem demora!!!