29 de novembro de 2012

De madrugada


Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha.(...) Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada. Ct 4:7,12

Acordei nesta madrugada, num daqueles momentos em que o sono é interrompido sem qualquer motivo evidente, e olhei para o lado, vi minha esposa dormindo tranquila, olhei todo o nosso quarto, e por alguns instantes, até que o sono voltasse, fiquei imerso em um sentimento de gratidão quase indescritível. Este é o meu assunto de hoje, gratidão, e vou abordá-la de forma bem específica, pessoal, como fui tomado por ela hoje!
            É interessante a forma como eu entendia o que era ser grato, antes de conhecer o Senhor Jesus... eu nunca fui o que se poderia chamar, entre os ímpios, alguém ingrato. Sempre agradeci quando recebia algo, ou alguém me prestava um serviço. Sempre pedi cortesmente, quando eu demandava algo de qualquer pessoa, sobremaneira das mais próximas. Mas isso é tão diferente do que é ser grato... sem conhecermos Jesus, a Sua vida e a Sua obra, não sabemos sequer o que é um “favor”. Sendo sincero, eu caminhei mesmo alguns anos no Evangelho sem entender o significado da graça, logo não sabia o que era ser grato, logo caminhava feito bêbado, quando tenta se manter reto apesar do efeito do álcool que o faz cambalear.

            Hoje, pela graça de Deus, meus olhos são limpos a cada dia, e vejo melhor quem eu sou, quem Deus é, e como esta graça é que opera todas as coisas, com o objetivo de me conformar a Jesus, de fazer-me semelhante a Ele. Só essa percepção seria suficiente para sustentar a minha gratidão por toda a eternidade. A gratidão é fruto da revelação clara de um Deus perfeito, soberano, imutável, justo, amoroso e bom, que elege homens vis, pecadores, iníquos, perversos, contaminados, seduzidos por tudo o que O ofende, para fazê-los santos, separados para Ele, para resplandecerem a Sua luz e anunciarem o Seu Filho, que uma vez morreu por estes homens, para que eles fossem regenerados e justificados diante do Pai. Sei que esta definição pode carecer de profundidade teológica, mas reflete exatamente a forma como me sinto, quando contemplo a beleza do meu Senhor. E eu sou grato por ser conduzido por Ele a amá-Lo, por ser trazido e tratado por Ele sempre que erro (e erro muito...), por ser Dele.

            Mas, como disse no início, hoje fui tomado por esta gratidão imensa, de uma forma particular, específica. E testemunho hoje a minha gratidão ao Senhor por ter recebido Dele uma esposa. E que esposa!!! Sou um entusiasta do meu casamento. Amo estar casado, porque amo o Senhor que criou o casamento, e amo também a esposa que Ele me deu. Olhava, na madrugada, para o lado, e pensava: “que fiz eu para merecer um só segundo com esta mulher?” “Que fiz eu para merecer que ela aceite cada imperfeição do meu caráter, cada dificuldade já conhecida, e cada uma que ainda vai surgir?” ”Que fiz eu para merecer uma mulher que se adapte às minhas manias, e as tome por agradáveis a si?” “Que fiz eu para merecer uma mulher que abra mão de planos, desejos e ambições, investindo no nosso relacionamento?” “Que fiz eu para merecer ouvir dela que me admira, e ver esta admiração revelada em cada gesto ou atitude?”  E ouvi, claramente, o Senhor me responder: você nunca precisou fazer nada... Eu escolhi esta mulher para Mim, e então a dei a você! Ela é minha, fonte selada. Tudo o que você precisa fazer é olhar para Mim, é receber de Mim a força e a sabedoria necessária para ser para ela o que Eu determinei que você seja. Não é você para ela, ou ela para você. São ambos para Mim. Seu casamento é Meu, filho! Seja grato! Seja grato! Você nunca mereceu, nem vai merecer uma filha Minha!

            Chorei quieto diante destas palavras! Chorei de contentamento. Feliz por saber que é Ele e não eu, que sustenta o casamento. Feliz por não precisar confiar em mim, ou nela (nós não somos dignos de confiança, vocês sabem...), mas que eu devo confiar Nele.
            Animo você, leitor, a olhar para Jesus a cada instante do seu casamento. A olhar para Jesus todas as vezes que olhar para seu cônjuge.  Você vai ter outra visão do seu matrimônio. Se você é solteiro, olhe para a perspectiva do casamento dentro do propósito de Deus. Tem que ser para glorificar a Ele. A cada dia, marido e esposa são conformados a Cristo, e Deus usa toda situação cotidiana, toda mesmo, para promover este aperfeiçoamento.

            Animo você, marido, a olhar para a sua esposa como uma filha de Deus. Antes dela ser sua, é Dele! Antes de ter sido criada para lhe auxiliar, foi criada para glorificar a Ele. Trate a sua esposa de forma que Ele fique satisfeito! E Ele vai gerar em você o amor que será o fio condutor da sua vida, expressando a vida Dele. Tenho feito este exercício, e sei bem o quanto a minha esposa é preciosa para Deus, e que preciso de uma medida de graça que me possibilite tê-la como igualmente preciosa para mim. Esta graça, concedida por Deus, muito além da minha (in)capacidade, faz com que eu ame a minha esposa a cada dia mais, faz de mim um homem convicto da indissolubilidade deste laço, faz meu corpo desejá-la, faz de mim seu protetor, seu provedor, responsável por ordenar a minha casa segundo a vontade de Deus.

            Antes de concluir eu não poderia deixar de fazer um breve comentário a respeito dela, daquela que é manifestação do amor e da graça do Pai na minha vida, daquela que foi preparada para mim desde antes da fundação do mundo, minha esposa, companheira, auxiliadora idônea. Deus, em sua soberana bondade e misericórdia, não olhando para toda a sorte de iniquidades em que eu vivia perdido, me deu uma esposa que ama a Ele mais que a mim (e me ama muito...), que serve a Ele antes de me servir, que busca a Ele todos os dias, cuja submissão e proceder me conduzem à oração, à meditação na Palavra, e tornam leve o exercício do meu sacerdócio. Eu tenho em minha esposa esteio, adorno, beleza, santidade. Eu tenho uma mulher que preenche todos os anseios do meu coração, que me satisfaz, sacia os meus apetites. Com ela eu oro, adoro, compartilhamos juntos a Palavra. Com ela eu dou risadas, conto piadas, vejo memes na internet, tiro fotos, brinco com as nossas cachorrinhas. Com ela eu lavo louça (apesar de sujar muito mais...), com ela eu traço rotas, tenho ideias, vejo filmes, como pipoca, faço dieta, ando na praia. Com ela eu dou graças ao Pai. Com ela eu caminho para Ele.

            Sou grato ao Senhor porque o casamento que Ele me deu me torna mais Dele! Sou grato por madrugadas como esta, onde lágrimas e sorrisos se harmonizam.

            E seremos uma só carne!!! E já somos!!! E seremos assim, até que Ele venha!!!
            E Ele vem!!!!

21 de novembro de 2012

Do arrependimento II


"Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." Lc 14.33.


            O arrependimento, fruto da bondade de Deus (Rm 2:4), é condição essencial à conversão, à entrada no Reino de Deus. Só um homem arrependido, contrito, é regenerado. Não há regeneração sem arrependimento!
            O arrependimento bíblico é uma mudança de atitude interior, uma mudança de governo. Quem antes era escravo do pecado, agora é servo de Deus! E como isso é operado, em termos práticos, na vida diária, pelo Espírito Santo?
            Jesus nunca pregou o Evangelho, buscando facilitar a sua aceitação, buscando torná-lo agradável. Jesus, ao contrário, sempre enfatizou as demandas e exigências da vida cristã. Vemos nos evangelhos isso com muita clareza:

“E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”  Mt 10:38-39

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mt 16:24-25

“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Mc 8:34-35

“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” Mc 10:21

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” Lc 9:23-24

“Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” Jo 12:25

            Como a igreja perdeu esta pungência, em sua pregação...  hoje são enfatizadas a prosperidade material, a relevância cultural do cristão no mundo, a adequação do crente à sociedade, a conformação aos valores e hábitos dos ímpios, tudo isto disfarçado de “contextualização missional”. Jesus foi o obreiro exemplar e nunca usou estes estratagemas. Ele cria no poder de Deus expresso em Seu evangelho, como suficiente para gerar arrependimento e fé, para a salvação dos Seus eleitos! E não há porque hoje enfatizarmos algo diferente do que fez o nosso Senhor! E a ênfase é no arrependimento e na fé, para que haja a salvação. A ênfase é na soberania e suficiência de Cristo neste processo. É Ele quem nos conduz ao arrependimento, é Ele que nos dá a fé, e é Ele quem nos salva, sem mérito nosso, unicamente por Sua graça.
            Voltando ao início do texto, onde falávamos da operação prática do arrependimento, vemos que Jesus coloca quatro situações necessárias para esse operar divino:

1.      Negar a si mesmo – reconhecer Cristo como Senhor, significa negar qualquer ação minha como capaz de prover tanto minha salvação, quanto meu caminhar até o Alvo. Negar a mim mesmo, significa na prática, colocar a vontade da minha carne sujeita à vontade de Deus. Significa praticar o verso da oração de Mateus 6, onde digo que “seja feita a Tua vontade, na terra (a começar em mim), como no céu”. Significa meditar incessantemente na Palavra, orar sem cessar, ler a Bíblia, procurando aplicar cada ponto à minha vida, conhecer o meu Senhor, para que haja discernimento da Sua vontade. Significa nunca confiar em meu coração.
2.      Tomar a cruz – para que seja efetivo esse negar-me, preciso ter consciência de que a cruz faz parte da caminhada, desde a conversão até o meu encontro com o Senhor. Tomar a cruz é seguir os passos de Jesus, é fazer o que Ele fez, é andar a segunda milha (Mt 5:41), dar a outra face (Mt 5:39), é mortificar aquilo que ainda fica de mim mesmo é, após negar meu “eu”, crucificá-lo, para que eu esteja totalmente rendido a Cristo.
3.      Perder a vida – bom, se eu nego a mim mesmo e tomo a cruz, perder a vida estará junto. A cruz é um instrumento de morte, e quem diz que a toma, mas ainda insiste em preservar a sua vida, nunca entendeu a regeneração. Se eu morri realmente, se fui regenerado, perdi a minha vida, e hoje Cristo vive em mim (Gl 2:20). Se alguém se diz cristão e se vê amarrado ao senso de autopreservação, precisa se arrepender.
4.      Renunciar a tudo – renúncia não deve ser confundida com cruz. São coisas diferentes, apesar de andarem juntas. Um exemplo é o texto de Mateus 5:39, onde Jesus nos ensina a dar a outra face. A renúncia precede o tomar a cruz. Eu renuncio quando abro mão do direito de revidar a agressão, e tomo a cruz quando dou a outra face. Em Mateus 5:41, eu renuncio quando abro mão do direito de não caminhar uma milha, e tomo a cruz, quando ando a segunda. Não haverá o “tomar a cruz”, se não houver a renúncia. Renunciar a tudo significa não me justificar, não tentar fazer valer o meu senso de justiça, mas crer que o Senhor que me escolheu, me salvou, me justificou, está me santificando e vai me glorificar.

Que estas verdades eternas sejam vida prática em mim, testemunhem minha fé a todos os que convivem comigo, e que eu persevere nelas, pela graça de Deus, e pelo Seu poder, que opera em mim o querer e o realizar (Fp 2:13), até que Ele venha.

E Ele vem, sem demora!

14 de novembro de 2012

Do arrependimento I


"Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos disse-lhes: Se alguém que vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”
Mc 8.34-36

            O arrependimento é uma das palavras mais mal compreendidas da Bíblia, e o seu correto entendimento é fundamental para a vida de todo cristão. Na verdade, sem o entendimento preciso sobre arrependimento, sequer se pode falar em conversão, em regeneração, em justificação, em fé.
            Arrependimento significa mudança de atitude, mudança de governo. E é um dom de Deus, assim como a fé.

“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” 2Co  7:10

“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
Rm 2:4

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus."
Ef 2:8

            Está claro, através da Palavra, que fé e arrependimento são essenciais para a conversão, e também está claro que, ambos são dons de Deus, que Ele concede conforme o Seu propósito, a Sua graça, o Seu beneplácito, com vistas a manifestar a Sua glória.
            Uma coisa essencial que precisamos compreender é que não há em homem nenhum o desejo de se arrepender. A carne gosta do pecado, gosta de ser independente, gosta de se governar. O homem natural precisa, antes mesmo de se converter, de uma operação sobrenatural do Senhor, através do Espírito Santo, para levá-lo a estar convencido do seu pecado, da justiça de Deus (que requis o sacrifício de Jesus Cristo), e do Seu juízo, conforme as palavras do próprio Cristo:

“E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.”
Jo 16:8

            Jesus também deixa explícito o coração do homem natural, quando explana para um grupo de fariseus:

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida.”
Jo 5:39-40

            O coração, o caráter, de qualquer homem, sem o Senhor, não é nem um milímetro melhor do que o do pior dos fariseus. E se eles não queriam ir a Cristo, eu, sem o Espírito Santo me convencer e trabalhar em mim, também não vou querer nunca. Enquanto for pregado e crido, no mundo e no meio das congregações, que o arrependimento cabe ao homem, o entendimento e o desfrutar dos seus efeitos será nulo. Deus leva, conforme a Sua vontade soberana, o homem ao arrependimento, Deus opera no homem a tristeza que produz este arrependimento, Deus convence o homem do pecado, e o homem que é tocado desta forma por Deus, inevitavelmente vai até Ele, arrependido, contrito, humilhado, rendido. Como Jesus mesmo diz, o homem que Deus tocou não pode resistir ao Seu toque:

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” 
Jo 6:37

            O entendimento pleno da operação sobrenatural que produz a Metanóia, a mudança de governo, de mente, de atitude interior, que é o arrependimento, a clareza de que é algo que o Senhor faz, e não o homem, traz para aquele que foi realmente regenerado um sentimento, também sobrenatural, de repúdio ao pecado que antes lhe agradava, um desejo de andar segundo aquEle que o chamou, uma necessidade de proclamar as Suas virtudes, um sentimento de que é forasteiro neste mundo, que antes o abrigava confortavelmente. O homem espiritual, revestido por Cristo, vive o arrependimento constante, sabedor de que a sua carne nunca se converte, mas sim, se rende ao poder do Espírito Santo que nele habita, e sabe também que a santificação é uma promessa de Deus, e que a luta contra a carne é diária. Ela vai durar até que Cristo retorne, e nos ache combatendo este combate, para o qual Ele nos forja a cada dia, através da Sua Palavra, do Seu poder que opera em nós, do nosso relacionamento com Ele, onde oramos, jejuamos, louvamos e clamamos por Sua graça.
            E viveremos assim, em guerra, mas Nele, até que Ele venha!

            E Ele vem, sem demora!!!!

31 de outubro de 2012

Da Exaltação



“Esteja absolutamente certa, toda a casa de Israel, que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” At 2:36
“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira, lhe dando um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre  nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai.” Fp 2:9-11

            A exaltação de Jesus é, antes de tudo, inerente ao Seu esvaziamento. Faz parte da humilhação a que Ele se propôs. Ele sempre existiu, era Deus, portanto, se não tivesse se esvaziado, não seria necessária a Sua exaltação. Jesus é o cumprimento perfeito do princípio de que aquele que se humilha será exaltado (Mt 23:12; Lc 14:11; Lc 18:14). Jesus trouxe o ensino, Jesus foi o exemplo vivo. Ele se humilhou. Deus O exaltou!
            A exaltação de Jesus nos ensina ainda algumas coisas. A primeira é que ela deve nos fazer contritos, cônscios da nossa necessidade Dele. Pedro expôs isso em At 2:36, e logo após ele declarar a exaltação de Jesus, o povo que o ouvia se desesperou, queria de todo jeito saber o que fazer, se viu carente, pobre, miserável, e então recebeu a ordem do Espírito Santo, através de Pedro para se arrependerem. Portanto, a primeira consequência de termos clareza da exaltação de Jesus é o arrependimento, a contrição, a desesperada necessidade Dele.
            A segunda coisa, é que Deus não só O exaltou, mas O exaltou sobremaneira (huperupsoo, no grego), à mais alta posição, à máxima altura. A exaltação de Jesus O colocou à destra do Pai, acima de toda a criação, com duas finalidades: estabelecer em definitivo a Sua autoridade sobre tudo e todos, dos anjos que estão ao redor do trono de Deus, até os demônios, nos recônditos do inferno. Nada, nem ninguém está fora do alcance do senhorio de Cristo, do Seu juízo, da Sua vontade. Aqueles que Ele escolheu ter misericórdia, serão convencidos pelo Seu Espírito Santo e desfrutarão da eternidade com Ele. Os demais, também estão sujeitos à Sua vontade, e por ele, padecerão na eternidade do inferno. A outra finalidade é na verdade a finalidade suprema de toda a criação: que Deus seja glorificado. Nada existe com outro fim, e vida e a obra de Jesus não seria nunca a exceção.  Jesus viveu na terra para glorificar a Deus; tomou sobre Si os nossos pecados, para glorificar a Deus; foi crucificado e ressuscitou para glorificar a Deus; foi exaltado para glorificar a Deus.
            O que isso nos traz, Seus discípulos, de aprendizado prático?
  1.      A contemplação de Cristo exaltado nos céus precisa me trazer contrição, consciência da minha fraqueza, minha incapacidade, minha inutilidade. Não é apenas a cruz que me traz arrependimento, mas também a exaltação. Toda vez que eu olhar para Jesus, tenho que ver a minha impureza, a minha indignidade, a dependência total da Sua graça, sem a qual eu mereceria a morte. Se isso não reflete o meu contemplar a Cristo, eu certamente estou olhando para o lugar errado. E se olho para o lugar errado, nunca vou chegar no destino certo;
  2.      Cristo é meu Senhor! Certíssimo! Mas Cristo é Senhor também de tudo e todos. Cristo é Senhor daqueles que o negam, que o blasfemam, que vivem em pecado. E todos estão debaixo da Sua soberania. Essa consciência revela a imensidão da Sua graça sobre mim. Enche-me de gratidão. Conduz-me a proclamar. Saber que tudo está debaixo da autoridade Dele me traz descanso e desafio, paciência e coragem, temor e ousadia. Traz, acima de tudo, a certeza de que Ele começou a obra em mim, e Ele vai terminá-la. Até o dia de Cristo Jesus!!!

E que Ele venha, sem demora!!!

(escrito em 21 de outubro de 2012)

Da Oração



“E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.”  Lc 11:1
“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” Rm 8:26
“Orai sem cessar.” 1 Ts 5:17

            A oração é algo sobre o qual tenho sido conduzido a meditar nestes dias. Mais particularmente, a minha vida de oração. O que compartilho hoje é algo que o Espírito Santo vem ministrando a mim, me corrigindo, me ajustando, com o propósito eterno de que o nome do Senhor seja glorificado.
            Antes de começar, expresso humildemente gratidão a Deus, por Sua maravilhosa e incomparável graça, de se revelar a mim, pecador, renovando sobre mim a Sua misericórdia e Seu favor, absolutamente imerecidos por mim. Agradeço a Ele por me ver segundo a Sua benignidade e não segundo a minha vileza, nem segundo as minhas muitas limitações. Sou grato por poder, de minha parte, e através de Jesus, chegar a Deus, falar com Ele e Dele para as pessoas a meu redor. Faço minhas as palavras de Isaías: “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos.” Is 6:5. Que Ele preserve em mim a convicção de quem eu sou sem Ele, e do que Sou Nele.
            Voltemos, pois, à oração. Separei estes três textos das escrituras, para traçar uma linha de raciocínio que nos conduza a meditar e aplicar a Palavra às nossas vidas.  O primeiro texto precede a oração que Jesus ensinou aos discípulos, o popular “Pai Nosso”(ver também Mt 6:9-13). Ele mostra que, ao contrário de um conceito popularmente difundido que a oração é algo “de qualquer jeito”, ela pode ser aprendida, não como uma fórmula, mas como um princípio. O segundo texto, deixa clara a nossa incapacidade de fazer sequer uma oração conveniente, a nossa dependência do Espírito Santo como intercessor diante de Deus. E o terceiro texto traz uma ordem, um preceito apostólico, determinando a prática contínua da oração. É tremenda a forma como estes textos são cheios de coerência entre si, e como, ao uni-los, chegamos a conclusões desafiadoras. Nesta meditação, abordarei algumas destas conclusões, e oro sinceramente que o Senhor revele outras a cada um que lê, e que Seu corpo seja mutuamente edificado.
            A primeira conclusão é a de que Jesus deixou não só o exemplo da oração incessante, como nos legou um princípio fundamental da oração: ela não deve apenas ser feita em Seu nome, mas segundo a Sua vontade, com o mesmo objetivo da Sua encarnação, a saber: glorificar a Deus (Jo 14:13-14; 15:7; 1Jo 5:14). Sempre que eu abrir a minha boca para orar, ou mesmo fazê-lo em silêncio, este princípio tem que estar presente. Algumas perguntas práticas podem ser úteis: Jesus oraria por isso? Atender à minha súplica ou petição condiz com a vontade de Deus revelada na Sua palavra? Deus é glorificado nesta oração? Se alguma destas perguntas não puder ser respondida com um claro “SIM”, muito provavelmente a oração nem devesse ser feita. Claro que não estou sugerindo que fiquemos a cada momento de oração, fazendo um “teste” para validá-la. Isso seria impraticável. O que eu sugiro, e tenho aplicado à minha vida nestes dias é que o nosso dia-a-dia responda “SIM” a estas três perguntas o tempo todo. Então, as orações estarão sem dúvidas no padrão que o Senhor estabeleceu.
            A segunda conclusão é que a primeira é totalmente impossível para mim sem a intervenção poderosa do Espírito Santo. Não sou capaz de sondar meu coração, não sei discernir meus erros, e minha carne nunca quer fazer a vontade de Deus. (Jr 17:9-10; Sl 19:12). Minhas orações, por mim mesmo, refletem as minhas limitações, o meu coração corrupto e perverso, as minhas concupiscências, o meu desejo de auto-realização. Preciso então da operação do Espírito Santo em cada oração que faço, para que ela chegue aceitável a Deus. Preciso, como disse um antigo pregador, que o Senhor Jesus lave minhas orações com Seu sangue, e com Sua santa assinatura, elas se tornem válidas diante do trono de Deus.  Mas, veja bem, não dependo de Deus apenas para adequar minhas orações; preciso Dele até mesmo para desejar orar (Fp 2:13). Na verdade, há em mim (em nós) um misto de fé e incredulidade. E esta parte de incredulidade muitas vezes me faz tomar diversas atitudes e realizar inúmeras atividades sem colocá-las diante de Deus. Porque digo incredulidade? Porque orar, em essência, é admitir minha insuficiência naquele ponto, é dizer: Senhor, eu oro a Ti, porque de mim mesmo não posso esperar nada. É confessar diante de Deus que aquilo pelo que oro é algo fora do meu alcance, mas ao alcance Dele. Portanto, quando eu deixo de orar em determinada situação estou, na verdade, dizendo a Deus que, naquele ponto eu me viro bem sozinho. Naquela questão eu sou suficiente, meu conhecimento, ou experiência bastam. Isso é ou não é incredulidade, no seu conceito mais elementar? Claro que é! Na hora do perigo, do risco iminente, à beira da morte ou de alguma outra situação desesperadora, certamente recorro à oração. Aliás, quem não recorre? Até o ímpio reconhece o poder de Deus na hora em que se vê completamente perdido. A pergunta é: em algum momento, sem Deus, não estamos completamente perdidos? Concluo, portanto, que não apenas não sei orar como convém, mas também, em boa parte das situações, não quero orar. E se Deus, na Sua infinita misericórdia e por Sua graça, não operar em mim, qualquer esforço meu será inútil. Qualquer oração será não só vil, mas ineficaz.
            A terceira conclusão advém das duas primeiras, e atende perfeitamente ao preceito apostólico de orar incessantemente. Concluímos que somos chamados a uma vida dedicada à obediência ao que Cristo disse e fez, a uma vida totalmente sujeita à vontade de Deus, a uma vida com a finalidade de glorificar a Ele (Ef 1:4). Concluímos que a oração é fruto desta vida, e que ambas, vida e oração, são geradas em nós pelo próprio Senhor, que dependemos inteiramente Dele para querer esta vida, para realizar cada oração. Como, então, não será incessante a nossa oração? Como dar cada passo em nossas vidas sem colocá-lo diante de Deus? Como acordar sem, antes de levantar, agradecer a Ele por mais um dia de vida, dádiva que, com certeza, não merecemos? Como sair de casa para trabalhar sem pedir a Sua presença conosco no trânsito, nas demandas profissionais? Como você, dona de casa, pode começar seus afazeres sem declara a total dependência Dele? Como você, Pai, ou Mãe, imagina proteger seus filhos, guardá-los de cada mal que espreita em cada esquina, sem rogar a Deus por eles? Como você, estudante, tem a pretensão de absorver algum conhecimento, se Ele não lhe conceder a aptidão para tal? Como cada um de nós tem a expectativa de cumprir o “Ide (ou Indo)” de Mateus 28:18-20, se não pedirmos que Ele fale através de nós? Ora, queridos, eu poderia elencar aqui cada minuto das nossas vidas, e em todos eles, sem exceção, fica evidente a nossa necessidade de Deus. E cada instante em que me esqueço disso, em que eu não declaro isso (e eu declaro isso orando), eu me levanto contra a soberania de Deus, e digo a Ele: agora eu não preciso de Ti. Isso aqui eu resolvo só. Pode deixar. E tantas vezes eu tenho dito isso a Deus… e em todas estas vezes eu estou redondamente enganado. E em todas elas eu peco.
            Este texto de hoje expressa, além da gratidão já dita, um profundo e sincero arrependimento pelas vezes em que eu pequei contra meu Senhor, por não orar, por não colocar diante Dele a minha vida. Que a contrição que eu sinto hoje alcance vocês, pela graça de Deus, e que, por meio Dele, cheguemos juntos à vida abundante que Ele nos chamou para viver. Eu tenho fé que chegaremos lá, até que Ele venha!
            E Ele vem! E vem sem demora!

(escrito em 19 de setembro de 2012)

Da Finalidade



“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.”  Fp 2:5-11
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu Nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante Dele em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado”  Ef 1:3-6
“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo”  Ef 1:11-12
“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” Cl 1:18
“Porque quem compreendeu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque Dele e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém.”  Rm 11:34-36
            Nestes dias tive o desprazer de prestar atenção em alguns adesivos destes que as pessoas põem em pára-brisas dos carros, não sei exatamente com qual intenção, e se vê de tudo… mas, chamou a minha atenção dois destes adesivos que, em tese, remeteriam à Palavra de Deus, mas que eu não consigo concatenar com o que está nas Escrituras. A primeira é “TUDO FOI POR MIM”, e a segunda, “EU ESCOLHI JESUS”. A primeira, eu aproveitei para usar como tema para esta reflexão; a segunda será inserida no mesmo contexto.
            Tão importante quanto o conceito do Propósito Eterno de Deus, que sejamos, Seus eleitos, uma só família, de muitos filhos, todos semelhantes a Jesus, é a finalidade deste. Selecionei para tratar disto alguns textos, transcritos acima, mas existem tantos outros que, claro, corroboram o ensino aqui apresentado. Todo o plano de Deus, tudo o que Ele propôs em Cristo é para a Sua glória! Parece óbvio, não? Mas é algo que precisamos discernir com profundidade. Deus, ao contrário do que se possa pensar, e efetivamente muita gente pensa, não enviou Cristo para resolver o problema do homem, que tendo pecado, ficou sob condenação, escravo do pecado, separado de Deus. Deus enviou Jesus para que a Sua justiça fosse cumprida. Vemos em Jo 3:16 que Deus amou o mundo de tal maneira, mas essa “tal maneira” não se refere a intensidade, mas à forma. Não é: Deus amou o mundo tanto, é Deus amou o mundo de tal forma…  Vejam, isto não limita o amor de Deus, ao contrário: é necessário um amor cujas dimensões estão fora da nossa capacidade humana de medir, para que houvesse tamanho sacrifício. Mas, este texto define a forma: para que a justiça de Deus fosse satisfeita, precisaria haver o pagamento do salário do pecado, estabelecido por Ele mesmo: a morte (Rm 6:23). E este pagamento ou seria cobrado de TODO homem, ou seria pago para uma parte, escolhida por Ele, através da morte de Jesus. Um resgate, como a própria escritura nomina (Mt 20;28).
            Não vamos entrar, hoje, na questão da eleição, da expiação limitada, da preservação dos santos. Estas verdades, podemos abordar em outro texto, se aprouver ao Senhor que o façamos. A questão de hoje é: de onde vem a idéia de que tudo foi por mim, ou por qualquer ser humano? Esta frase é contrária ao ensino bíblico. Nada foi por nenhum ser humano. Tudo o que Deus faz visa a Sua própria glória, através do cumprimento da Sua vontade soberana, por Sua irresistível graça, em Suas infinitas misericórdias. O centro do Evangelho é Cristo, não o homem. O propósito de Deus exalta a Cristo e não o homem.A Igreja é o corpo de Cristo, sujeita a Cristo, fazendo apenas a vontade de Cristo. O evangelho que deve ser pregado é o evangelho do Reino de Deus, e deve ser pregado do jeito que Deus manda. A fé é um dom de Deus, o arrependimento é obra do Espírito Santo, a regeneração é em Cristo, é Ele quem nos salva, e santifica a todos os que salva, e os preserva. Basta ler as palavras do próprio Senhor: Jo 1:3, 12, 13; Jo 3:5-7, 16-21, 27; Jo 4:14; Jo 5:21, 40; Jo 6: 37-39, 44, 65-66; Jo 17:6, 9, 12, 20, 24-26. A única contribuição humana à salvação é o pecado, pois o pecado que herdamos de Adão tornou a salvação necessária, para que, regenerados, pudéssemos ter acesso a Deus. Qualquer outra pretensa contribuição nada mais é que uma vil tentativa de diminuir a obra de Jesus, e novamente centralizar o homem. É falso evangelho, traz falsa esperança, e deve ser severamente rejeitado. Portanto, TUDO FOI POR DEUS, seria o adesivo certo, põe o homem no seu devido lugar, um miserável condenado à morte pelos seus próprios delitos e pecados (Ef 2:1), totalmente dependente da misericórdia e graça soberanas de Deus. Somos gratos exatamente porque não poderíamos fazer nada para ser salvos, e ainda assim Deus nos escolheu antes da fundação do mundo para sermos santos (separados) para Ele (Ef 1:4). Deus não me salva para que eu tenha o que eu queria quando era carnal. Para isso, podem haver outras alternativas, mas o evangelho não é uma delas. Deus me salva me dando um coração novo (Ez 36:26), me fazendo nova criatura (2 Co 5:17), que quer o que é da Sua vontade, que deseja a Sua glória.
            Nesta mesma linha, na segunda frase, a mentira se desfaz com apenas um texto, palavra também de Jesus, Jo 15:16. Nem gastarei mais linhas a este respeito, só reforço o ensino bíblico: JESUS ME ESCOLHEU.
            O  Senhor que começou esta obra, antes da fundação do mundo, há de concluí-la, em cada um dos que Ele escolheu para Seu povo, até o dia de Cristo Jesus (Fp 1:6).
            E Ele vem!!
            E está cada vez mais perto!!!


(escrito em 23 de agosto de 2012)

Da Poesia



Bendito seja o Pai


Bendito seja o Pai, bendito seja,
Já tenho toda a bênção de uma vida em Jesus,
Fui escolhido nEle, adotado pela cruz,
Para a santidade, e sem culpa diante dEle,
Desde antes do começo que é assim,
O propósito que Deus traçou pra mim,
Bendito seja o Pai, bendito seja,
Sua gloriosa graça me foi dada sem medida
Em Jesus, que deu Seu sangue, Sua vida,
Pra remir todo o pecado cometido.
Desde antes do princípio até o fim,
O propósito é eterno e vive em mim,
Bendito seja o Pai, bendito seja,
Cujo amor não posso comparar a nada,
Cuja graça abundante é derramada,
Sobre cada pecador que foi remido.
Desde que nasci de novo, eu digo sim:
Seja feita a Sua vontade para mim.


Do Monstro



Vivemos dias áridos. Dias que lembram o século XVI, que viveu o eclodir da indignação de parte dos cristãos contra os desmandos e interpretações estranhas feitos pela Igreja de Roma, e culminou no seu terço final com a chamada “Reforma Protestante”, cuja bandeira primordial era a defesa da Bíblia como regra de fé e prática, nas chamadas 5 solassola scriptura (só as escrituras), sola fide(só a fé), sola gratia (só a graça), solus christus (só Cristo) e soli deo gloria (glória só a Deus).
            Hoje, quase 450 anos depois, estas 5 solas são verdades cada vez mais distantes naquilo que se convencionou chamar “evangelicalismo” (expressão criada no século XVIII por George Whitefield, que significava que Deus estava acima dos limites denominacionais), e que agora significa… bom, eu nem sei o que significa, mas pouco tem a ver com o conceito original.
            Nos nossos dias, as indulgências estão vivas, mais sofisticadas, e com uma boa maquiagem, mas bastam alguns minutos frente a uma TV, principalmente durante a madrugada, para comprovar que o comércio da salvação segue cada vez mais forte. E não adianta tentar amenizar, dizendo que Deus olha a fé dos fiéis… É verdade, mas não torna a prática aceitável, pois Deus também olhava a fé dos tolos que depositavam moedas para salvar parentes do inferno na Europa medieval.
Nos nossos dias, a idolatria é pujante, seja na forma de “artistas gospel”, seja na forma de grandes pregadores, verdadeiros astros da mídia. Vemos camisetas, pulseiras, bandanas, pôsteres, vendidos inclusive em momentos que pretendem ser reverentes a Jesus. Vemos, ainda, denominações que dão aos seus fundadores destaque com nomes inscritos ou fotos, e por aí vai. Eu olho para alguns que chamam os católicos romanos de idólatras por adorarem Agostinho, Francisco de Assis, Teresa D’Ávila, João, Pedro, e tento entender com que autoridade o fazem. Estes que citei, entre outros, ao menos levaram vidas que nos inspiram a imitar, e nenhum deles fomentou essa prática.
Nos nossos dias, os púlpitos estão cheios de palavras de prosperidade, de vitória, de sucesso no mundo, pessoal e profissional, onde o que é pregado nem de longe remete à pregação de Jesus e da Igreja primitiva. Ninguém fala em cruz, em serviço, em gastarem-se uns pelos outros. Volta de Jesus então, pense em um tema raro…
Só a fé, só a graça, só as escrituras, só Jesus e somente a Deus a glória são na verdade o oposto do caminho tomado pela grande maioria das denominações, principalmente as pentecostais e neopentecostais. E são justamente estas que representam o tão comemorado crescimento do protestantismo no Brasil. Ora, convenhamos, esse monstro que está crescendo não tem qualquer vínculo com a Reforma Protestante. É um monstro que desrespeita as escrituras, que barateia a graça, que violenta a fé, que ofende o nome de Jesus, e que busca apenas a glória dos seus próprios líderes. Isso, nem deveria se chamar igreja. E mesmo que se chame, não é. Afinal, você chamar um porco de cavalo não o torna um cavalo, torna você um tolo.
Claro que dentro do balaio onde a mídia insiste em pôr todos aqueles que se dizem cristãos não-católicos, com a alcunha de “evangélicos”, existem grupos sérios, fiéis à Palavra de Deus, zelosos do chamado que o Senhor fez àqueles que Ele escolheu. E a estes cabe a missão de revelar a verdadeira face desse monstro. E isso é tão necessário quanto o foram as vozes proféticas do Antigo Testamento, enviadas para exortar Israel, ou João Batista, ao anunciar a vinda de Jesus, ou os mártires do primeiro e do segundo século, que deram as suas vidas pelo Evangelho, ou homens como Jan Hus, Lutero, Calvino, Zwinglio, e tantos outros, instrumentos de Deus para a correção do Seu povo.
Este texto meu, queridos, é um desabafo. Eu precisava fazê-lo. O intuito não é de iniciar uma “guerra” no meio dessa mixórdia. Só há uma forma eficaz de desnudarmos este monstro: pregando e vivendo a Verdade. Seguindo realmente, em todas as nossas atitudes, a Jesus. Não precisamos de passeatas, discussões inflamadas, ou críticas de ordem pessoal. Se você crê no Reino de Deus, submeta-se a Jesus como Seu Senhor! Se você vê heresias ou práticas reprováveis onde você congrega, confronte diretamente a pessoa, mostre na Palavra e, se não houver arrependimento, procure quem viva segundo a Bíblia. Caminhar sozinho não é solução, é suicídio! Desafiar autoridade não é coragem, é pecado (confrontar na Palavra e desafiar são coisas bem diferentes)!
O que a Igreja precisa é que os homens que o Senhor escolheu para viverem a Sua vida, a vivam na sua plenitude, com toda a intensidade, testemunhando Dele, proclamando o Seu Reino, dispostos a serem consumidos por este propósito, cientes de que é o Senhor, o autor e consumador da nossa fé!
A Igreja não pode se calar, é certo. Mas o alvo não é ser simplesmente protestante, mas ser transformante!
Todo homem estará diante do trono de Deus, e vai prestar contas a Ele! E todo aquele que não se arrepender, certamente morrerá!
Temos uma guerra, queridos, há um monstro a vencer! Um monstro travestido de ovelha, mas muito pior que um lobo! Um monstro alimentado por Satanás! E este monstro deve ser vencido em oração, leitura da Palavra, proclamação do Evangelho. Nossas vidas transformadas, unânimes em um só objetivo que é glorificar a Deus, transbordantes da graça do Senhor, são as armas mais poderosas nesta batalha.
Afiemos as espadas! A guerra está aí!
E vamos lutar até que Jesus volte!!
E Ele vem!! E vem sem demora!!



Obs.: propositalmente não enchi o texto de versículos bíblicos. Seria fácil fazê-lo, mas como foi um desabafo, deixo os leitores livres para confrontar tudo o que escrevi com as escrituras. Se houver algo em discordância com elas, corrigirei prontamente. Como sugestões de leitura ficam os livros de Êxodo, Juízes, Jeremias, Ezequiel, Ageu, os Evangelhos, as Cartas de Paulo, Pedro e João.

(escrito em 17 de julho de 2012)

Da Liberdade para servir


 “E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” Rm 6:18
“Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna.” Rm 6:22
“Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra.” Rm 7:6

            Estes textos que destaquei, dentre tantos outros no Novo Testamento, deixam claro que fomos libertados da escravidão do pecado com a finalidade de servirmos. Sim, somos feitos servos com a conversão a Cristo. Convertidos a servos do Senhor. Ministros de Deus. Homens e mulheres a Seu serviço. As boas novas anunciadas por Jesus e Seus discípulos (onde estamos incluídos), foram e devem continuar sendo a respeito do Reino de Deus. E Reino pressupõe um Rei, e este reina sobre Seus súditos. Reino pressupõe um Senhor, que exerce Sua autoridade sobre os Seus servos. Um servo não tem vontade própria, é alguém que foi comprado para pertencer a um Dono. No texto original, em grego, do Novo Testamento, a palavra traduzida com “servo” é “doulos”, que significa literalmente “escravo”. E a palavra “Senhor” é “Kyrios”, que significa proprietário, dono. Talvez assim fique mais clara a nossa função no Reino de Deus. Fomos libertados da escravidão do pecado, para sermos escravos de Deus.
            A expressão “serviço”, a despeito de ser tão repetida nas escrituras, é, a meu ver, muito mal-interpretada entre a Igreja. Há quem aja como se Deus estivesse a serviço do homem, há quem ache que basta fazer algum trabalho em favor dos irmãos, no final de semana, ou outro horário vago, e já está dando a sua “cota” de serviço, há quem ache que ministério (serviço, como já dissemos) é um talento especial para a sua própria exaltação ou reconhecimento. Há todo tipo de distorção do sentido do termo. E muita pouca compreensão do seu real sentido.
            Inicialmente, para servirmos, precisamos ter atitude de servo, coração de servo. E isso é o tempo todo. Um servo não é servo de vez em quando. É servo e ponto final. Seja à meia-noite, de madrugada, nas férias (sim, não existem férias do Reino de Deus), nos momentos de lazer. Em todo instante um servo é alguém sempre pronto a servir. Nossa comida é fazer a vontade de Deus (Jo 4:34). Somente Ele pode me fazer repousar (Sl 23:2). É Nele o meu descanso, é Nele o meu prazer. Assim serei verdadeiramente Seu servo. E serei achado bom e fiel por Ele.
Um segundo ponto é: somos servos de quem? Resposta fácil: somos Servos do Senhor! Amém! Vamos agora cavar um pouco mais: sendo a Igreja o corpo de Cristo, a quem servimos, somos servos de Jesus, mas exercemos esse serviço uns pelos outros. É exatamente o que parece: eu demonstro meu serviço ao Senhor servindo ao meu irmão. E tem mais, eu tenho um Senhor, e Ele manda que eu anuncie o Seu Evangelho. Para fazê-lo, eu preciso servir ao meu próximo, servir àquele que o Senhor me indicar. O serviço é uma das mais potentes formas de proclamação. Portanto, servimos ao Senhor, servindo ao nosso irmão e servindo ao próximo.
Um terceiro ponto é: como servimos? Ora, se um servo comum serve por obrigação, assim não deve ocorrer conosco. Nós servimos a um Senhor que nos amou quando ainda éramos pecadores (Rm 5:8). Nós não servimos por obrigação (ou não deveríamos), servimos por gratidão, por amor. Servimos pela operação do Espírito Santo em nós. Servimos porque somos novas criaturas e o próprio Senhor nos faz desejar servir. Portanto, servimos com alegria, com excelência, com satisfação, com gozo.
Mas não nos enganemos! Não há, nem vai haver, nenhuma disposição em nós mesmos para o serviço. Nossa carne se inclina para o mal (Rm 8:7). Nossa carne nunca vai agradar a Deus (Rm 8:8). É Cristo em nós que nos faz servos. Quem está em Cristo, anda como Ele (1Jo 2:6). É a vida Dele fluindo em nós que nos conduz a servir. O serviço que não provém do próprio Senhor não será aceito por Ele. O padrão de um discípulo de Jesus é o próprio Jesus. Ele deu Sua própria vida a nosso serviço, e Ele vive em nós para que O sirvamos. Ele nos escolhe, Ele nos capacita, Ele nos sustenta, Ele nos move em Sua direção. É tudo Dele, por Ele e para Ele (Rm 11:36).
Portanto, precisamos avaliar nossos caminhos. Como temos gasto o tempo? Como temos gasto nossas vidas? Temos nos preservado, ou nos deixamos gastar em favor do Reino de Deus? Servimos voluntariamente, ou só quando somos demandados. Servimos com alegria, prontamente, ou murmurando? Quem refletimos com o serviço que prestamos? Servimos por operação do Senhor, ou na nossa própria força? Precisamos de revelação quanto ao padrão do nosso serviço. Um serviço que é de todos os santos, em favor de todos os santos, durante todo o tempo, com alegria, obedecendo à vontade do Senhor, até que Ele venha!
E Ele não tarda! Está cada vez mais perto!
(escrito em 10 de julho de 2012)