9 de dezembro de 2014

UM BREVE DEPOIMENTO SOBRE A GLUTONARIA – O PECADO CONSENTIDO E INCENTIVADO NA IGREJA

“seja a vossa moderação notória a todos os homens. Perto está o Senhor” (Fp. 4:5)
“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,  idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,  invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam.”   Gl 5:19-21

            

Sim, comer demais é pecado. Simples assim. E definir glutonaria, ao contrário do que se possa imaginar, é fácil: glutonaria é comer demais, é ingerir mais alimento do que é necessário.

De início, é preciso acertar uma ideia comum, e errada: glutonaria, apesar de intimamente ligada à obesidade, não está ligada a ela como uma regra. Isto é, existem obesos que não são glutões, e há glutões que são magros. Obesidade é uma doença, cujas causas são diversas, desde o excesso de ingesta alimentar até distúrbios de ordem hormonal, e deve ser tratada por equipe multidisciplinar, às vezes até mesmo com o uso de medicamentos e, mais raramente, intervenção cirúrgica. A glutonaria é pecado, conforme deixa claro o texto de Paulo aos Gálatas, corroborado com diversos outros textos, no AT e no NT, e como tal deve ser tratado por nós, que somos corpo de Cristo, servos do Altíssimo. Mas não é o que eu vejo. Ao contrário, vejo a igreja condescender com a prática da ingesta excessiva de alimentos, incentivá-la, a título de comunhão, e relevar o tratamento deste pecado nos irmãos que, muitas vezes, o cometem de forma contumaz.

Quando eu ajo como um glutão, evidentemente, eu não glorifico a Deus. E preciso ter o discernimento dado pelo Espírito Santo, para que convencido do pecado, o abandone. Mas, quando eu ajo como glutão?


Vou responder como cristão, médico e reconhecidamente fraco nesta área:

1. Eu cometo glutonaria sempre que como além do que preciso para não sentir mais fome. E isto é mais prático do que parece. Todos nós sabemos muito bem qual o momento em que paramos de comer para saciar a fome, e começamos a comer por prazer, ou compulsão. Neste momento, irmãos, é a hora de parar de comer. Como regra geral, repetir um prato pela terceira vez, sempre é gula. Pela segunda vez, na maioria das vezes o é. Se você faz deste hábito quase uma rotina, sugiro que sonde seu coração, e mais, que controle seu apetite.

2. Eu cometo glutonaria todas as vezes que como algo que sabidamente causa um malefício. Seja um alimento com excesso de gordura, sal ou açúcar, para qualquer pessoa; seja um alimento proibido para alguma condição de saúde específica (p.ex.: doces para um diabético, trigo para um celíaco, camarão para um alérgico...). Em suma, se por algum motivo, comer um tipo de alimento me faz mal, e eu não consigo parar de comer, obviamente há algo de errado no meu comportamento.


Mas o que mais me causa espanto é a forma displicente com a qual tratamos o assunto, como igreja. Fui convertido há 8 anos, e somente uma vez, nos três ciclos de obesidade que enfrentei, no meu caso por gula, fui advertido biblicamente que comer como eu comia era pecado. Como prática geral, no entanto, o que vejo são “comunhões” regadas a alimentos muitas vezes inadequados, incentivos a comer excessiva e repetidamente, um número elevado de irmãos com doenças ligadas diretamente a hábitos de vida não saudáveis, com sua qualidade de vida prejudicada, o que afeta diretamente a sua produtividade, na obra do Senhor, e nos demais afazeres. Irmãos que são precocemente acometidos por infartos do miocárdio, dores de coluna por excesso de peso, hipertensos e diabéticos que, absurdamente, não conseguem se livrar do sal e do açúcar. Cada um, é claro, é responsável pelas consequências dos pecados que comete, e muitas vezes estes, ainda que perdoados, deixam suas marcas, e não culpo ninguém por ter adoecido algumas vezes pela minha fraqueza em controlar o que como. Mas somos família de Deus, e peço que os irmãos que verdadeiramente me amam nunca mais deixem de me exortar e corrigir se eu incorrer novamente no pecado da glutonaria. Eu não serei mais omisso neste sentido.


Quer comamos, quer bebamos, quer façamos qualquer outra coisa, que façamos para a glória de Deus. (1 Co 10:31)


5 de agosto de 2014

REMINDO O TEMPO

Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus.
Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor.”  
Ef 5:15-17
  


Meditando há alguns meses no verso 16 desta passagem da carta  aos Efésios, tenho olhado para o tempo com outros olhos. “Remir o tempo” é tão comumente falado no nosso evangeliquês, que é quase um clichê, e muitas vezes usada, inclusive por mim, com o sentido de ser rápido, apressar-se, ser prático. Mas, creio eu, que há um significado mais amplo, com aplicação igualmente prática, a ser extraído deste ensino apostólico.

O tempo é algo precioso. É algo valorizado em toda a Bíblia. É tão valorizado que, para descrever a criação, em Gênesis 1, foram usados dias, que nada mais são que uma expressão de tempo. A ordem de separar um dia em sete para dedicá-lo especialmente ao Senhor, presente na Lei, também. O salmista pede que o Senhor nos ensine a contar nossos dias para que alcancemos sabedoria (Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios. Sl 90:12), é nítida a correlação entre o clamor de Moisés e o ensino de Paulo. Ambos relacionam a sabedoria com o uso do tempo, e usar o tempo, ou melhor, redimi-lo, é algo que preciso estar disposto a aprender.

Porque o tempo é importante? Ora, eu poderia listar várias razões, umas mais, outras menos óbvias, mas vou me deter em três:

1.   O tempo é incerto: simplesmente, eu não sei quanto tempo ainda tenho. Posso dizer, baseado em dados estatísticos que, aos 43 anos, tenho menos do que já gastei, mas não posso afirmar quantas horas, dias, ou anos ainda terei. Neste instante, sequer posso afirmar que terei tempo para concluir este texto;

2.   O tempo, apesar de incerto, é curto, é limitado: esta característica determina o seu valor. Não vou ter tempo para sempre, não posso dispor dele como se sempre fosse tê-lo. Na verdade, o dia de hoje, nunca mais o terei novamente;

3.   O tempo, uma vez mal utilizado, é irrecuperável: não tenho como voltar no tempo para corrigir o mau uso dele. O que fica no passado serve de lição, mas não é possível recuperar este tempo para fazer as coisas diferentes.

Por se tratar de um recurso incerto, limitado e irrecuperável é que o tempo precisa ser remido (ou redimido, são sinônimos), na vida de um homem regenerado. Um cristão não pode usar o tempo da mesma forma que o ímpio. Outras devem ser as prioridades, outras devem ser as urgências, outra deve ser a finalidade. O texto de Paulo traz dois ensinamentos que considero bem práticos neste exercício redentivo.

O primeiro ponto que quero ressaltar, é uma declaração taxativa: os dias são maus. Vejamos que o apóstolo não diz que há dias bons e dias maus, nem que os dias podem ser maus. Ele afirma: os dias são maus. E o que isso quer dizer? Quer dizer que não há nada no meu dia que naturalmente favoreça o viver cristão. Não há nada em nosso tempo (tempo no sentido de cultura, era, época) que não necessite ser redimido. Não dá, por exemplo, para esperar que o desenrolar do dia favoreça a piedade, a longanimidade, a caridade, o perdão, a proclamação do Evangelho. Isso não acontece, vocês sabem. Nossa cruz, que tomamos dia a dia, é expor o nosso cristianismo na vida prática, diante de uma multidão que, se vê Jesus em nós, gritará: Crucifica-o! Os dias são maus, e remir o tempo significa andar na contramão destes dias, vivendo a fé que confessamos, sabendo que estamos desde já, para este mundo, crucificados.

O segundo ponto é que nos é exigida prudência no andar, sabedoria. Andar com prudência, envolve cuidado, mas não o cuidado derivado do medo, da incerteza. Antes, trata-se aqui do cuidado que nasce de, sabendo como devemos andar, o que devemos fazer, zelar para cumprir o que foi ordenado. Andar prudentemente está intimamente relacionado com a declaração de que os dias são maus. Ou, quem anda de forma descuidada em meio a um terreno hostil? Só um insensato faz isso. Mas, não somos chamados à insensatez, mas à sabedoria, logo devemos estar sempre cônscios dos dias maus em que vivemos, da necessidade de que o tempo seja remido e, sabedores da forma correta andar, vigiarmos, sermos prudentes ao obedecer os ensinos recebidos. Andar prudentemente significa entender a vontade de Deus, buscar nas Escrituras o que já foi revelado sobre Deus, sobre Seus desígnios, significa andar com os olhos postos em Cristo. Redimimos o tempo, enfim, usando o tempo para a glória de Deus, buscando em cada instante do dia, andar conforme o que aprendemos de Cristo. Um cristão é convocado a glorificar a Deus no seu trabalho, no trânsito, no lazer, na vida familiar, no convívio social, na fila do banco e, claro, nos momentos reservados para o culto, seja doméstico, seja público. Assim remimos o tempo.

Concluindo, vivemos em dias maus, dias que, em seus cursos normais, são cheios de impiedade, violência, mentira, hipocrisia, egoísmo. A sociedade é formada, em grande parte, por homens que não conhecem a Deus, e o sistema como um todo reflete a depravação de cada homem. Nós, todavia, se nascemos de novo, temos uma prioridade: glorificar a Deus. Ao morrermos, o legado que deixamos para as pessoas com as quais convivemos precisa ser o quanto de Cristo testemunhamos, muito mais que nossa reputação profissional, por exemplo.  Remir o tempo é algo prático, é exercitar diariamente o que as Escrituras nos ensinam, é fazer da nossa profissão de fé a nossa identidade, a marca que deixamos, os rastros que outros podem seguir. E, finalizando, descrevo algumas práticas que tenho adotado, nas quais preciso ainda melhorar muito, mas que têm me sido muito úteis:

- Ter um tempo específico, diário, e definido de leitura bíblica

- Tirar, a cada duas horas, no mínimo 5 minutos para oração (pretendo diminuir os intervalos e aumentar o tempo de oração, mas este já é um começo)

- Passar mais tempo estudando as Escrituras e temas de teologia do que assistindo TV

- Ler mais teologia que ficção (sem deixar de ler ambos, afinal a arte é graça comum, e toda beleza vem de Deus)

- Ver cada encontro pessoal no dia como uma oportunidade de expor o Evangelho, e aproveitar o máximo deles

- Antes de dar cada passo no dia, entender como ele glorifica a Deus

- Ser o mais produtivo possível no trabalho, para que as preocupações com ele não consumam tempo adicional

- Olhar cada momento de lazer como uma forma de testemunhar de Cristo


Bom, eu poderia listar mais uma porção de coisas, mas estas são as que tenho disposto a mim e a minha casa a fazer.

E, como vocês perceberam, consegui terminar o texto, pela misericórdia do Senhor!


Que o Senhor nos conceda a graça necessária!!


Celso Boaventura Jr é membro da Igreja Presbiteriana de Guaramirim


31 de março de 2013

DA PÁSCOA


Hoje é o domingo de Páscoa, a data mais importante para um cristão!

Hoje celebramos a ressurreição de Cristo, rompendo os grilhões da morte, e esta ressurreição nos é a base, o fundamento, para toda a vida que temos nEle (At 2:24, 1Co 15:14). Jesus ressuscitou para a nossa justificação, para que, uma vez feita nEle a justiça de Deus (1Co 5:21), fôssemos considerados justos diante do Pai (Rm 4:25), nós os que fomos eleitos para nEle crermos.

Hoje é um dia de festa, mas deve ser também um dia de reflexão, pois nada disso seria necessário se não estivéssemos diante de um Deus cujo amor é da mesma dimensão da justiça, e cuja misericórdia é tão grande quanto a ira, e cuja soberania é tão imensurável quanto a graça. Diante da morte e ressurreição de Deus, em Cristo, contemplamos um Soberano e Senhor cujos atributos são a síntese perfeita de quem Ele é!

Se Deus não se irasse com o pecado, se a Sua justiça não fosse requerida com sangue, este feriado seria inútil (Ex 34:7 e Na 1:3; Hb 9:22). Vejam o que diz Provérbios 17:15: "O que justifica o perverso e o que condena o justo são abominações, tanto um como o outro". Deus não contradiz a si mesmo, por isso o profeta diz que Ele se agradou em moer a Cristo (Is 53:10a), não porque Deus é mau, ao contrário, porque Ele é bom, e santo, e justo.
Para compreendermos a Páscoa sob a perspectiva do amor de Deus, é preciso ler nela todos os Seus demais atributos, ou teremos uma visão distorcida do seu significado.
Na Páscoa o Seu amor se revela tamanho, pois nela a Sua ira nunca foi maior. A Sua justiça foi cumprida perfeitamente, e as Suas graça e misericórdia atingiram além do que eu possa medir!
A Páscoa é a passagem do povo de Deus, na ressurreição de Jesus, da escravidão do pecado, para a escravidão ao Senhor, de filhos da ira (Ef 2:3) a filhos adotivos de Deus (Ef 1:5). Eu cri em Cristo e isso me foi imputado como justiça (Rm 4:3, 22; Gl 3:6-7; Tg 2:23)!! Eu fui eleito antes da fundação do mundo (Ef 1:4), meu nome foi escrito no Livro da Vida antes de eu nascer (Ap 17:8)!! Devo sim, celebrar com júbilo!! Louvemos ao Senhor!!

Mas, em meio ao louvor, e ao regozijo, lembremos de anunciar o Seu Evangelho, o Seu Reino, anunciando que este Deus de amor é um Deus cuja ira e justiça puseram na cruz Seu Filho unigênito, cuja santidade requis o sangue de Jesus, e vai requerer o de todo aquele que não estiver nEle quando Ele voltar.

Desejar feliz Páscoa para quem não está nEle, queridos, é mentira, pois TODO pecado tem sua punição, ou em Cristo, ou no inferno, e para aqueles cujo fim é este último, a Páscoa será qualquer coisa, menos feliz!!
Agora, como não nos foi dado saber, até crermos, quem foi predestinado ou não para esta passagem, impõe-se que este Evangelho do Reino seja pregado a toda criatura (Mt 24:14)!!

Até que venha o fim!!!

Até que Ele venha!!!

E Ele vem, sem demora!!!

21 de março de 2013

De mim


            Durante anos, após a minha conversão, eu incorri em algo que eu considero hoje um erro: eu sempre medi Deus por parâmetros que eu possuía. Por exemplo, eu sempre cri  que Deus é amor, mas o parâmetro de amor era, ao menos em parte, influenciado pelo que eu entendia sobre amor. E isso se aplicava também a outros atributos de Deus, a saber, a ira, a justiça, a soberania, a misericórdia e a graça. Isso me fez crer no meu livre-arbítrio, me fez achar que a minha decisão de escolher Jesus havia sido determinante na minha conversão, a despeito das circunstâncias desta serem claramente contrárias a qualquer interferência minha.
       Eu acreditava que Jesus havia morrido pelos pecados de todos, e quem aceitasse isso seria salvo, o restante, condenado. Acreditava que o "crer" dependia de mim. Não dizia isso claramente, muitas vezes, mas minhas atitudes refletiam isso. Acreditava que Deus fazia uma parte, ia até certo ponto, e a partir daí, era comigo, era minha escolha. Era, sei disso hoje, um sinergista.

      Há um ano, aproximadamente, incomodado por alguns escritos recentes, de homens cujo posicionamento e visão eu já admirava, como Paul Washer, John McArthur e John Piper, além de alguns não tão recentes, como Martyn Lloyd-Jones e Leonard Ravenhill, eu comecei a estudar mais detidamente as Escrituras e ser confrontado por elas quanto à fundamentação bíblica do que eu cria.

           Este foi o primeiro ponto. Como sou muito curioso, e estes autores são relativamente recentes, resolvi percorrer a história da igreja, em busca de confirmação do que o Senhor já vinha me falando, afinal, com poucos anos de convertido, eu poderia me enganar e ser tendencioso na interpretação do que eu lia na Bíblia. Encontrei então os textos de Jonathan Edwards, George Whitefield e Charles Spurgeon, e vi que aquilo que me confrontou não era um entendimento novo das Escrituras, vi mais, vi Richard Baxter, John Owen, Thomas Watson, e outros chamados puritanos, que confirmavam o que eu já entendi claramente como verdade a respeito de Deus e Sua obra de redenção particular para com o Seu povo. Os puritanos me adicionaram a certeza de que esta verdade deve gerar uma vida verdadeiramente piedosa, e isso alegrou meu coração, afinal doutrina tem que gerar vida, e vida transformada.

          Recuando um pouco mais no tempo, cheguei aos reformadores, sobretudo João Calvino, que sistematizou seu estudo de forma muito clara, atribuindo, em conformidade com o que diz a Bíblia, a salvação somente ao Senhor. Talvez por este legado tenha ficado a designação de calvinista a todo aquele que é, na verdade, monergista, isto é crê que Deus opera 100% da salvação do homem. E não há refutação bíblica consistente, apenas como disse no começo deste texto, há o fato inconteste de que essa idéia humilha o homem ao máximo, ao tirar dele qualquer mérito na sua própria salvação (ainda que seja o mérito de ter escolhido Jesus). Talvez seja esta humilhação que nos é imposta que torne este ensino tão desconfortável.
Mas Calvino não "inventou" nada. Se voltarmos um pouco mais de mil anos, chegaremos a Agostinho, cujo discurso é exatamente o mesmo, e está totalmente em conformidade com o ensino apostólico que aprouve ao Senhor registrar para a instrução dos Seus eleitos.

          Diante de tantas evidências, que corroboram plenamente o ensino bíblico, eu me vi rendido às doutrinas da graça, ao monergismo, e esta rendição me tornou um homem mais grato ao Senhor, mais cônscio de quem sou, mais pronto a orar, a chorar diante dEle, a proclamar o Evangelho do Reino de Deus a todas as pessoas, para que através da pregação da Palavra aqueles que o Senhor elegeu sejam reunidos a Ele. 

           Que eu nunca seja achado omisso neste ministério para o qual fomos todos chamados ao sermos regenerados. Que eu seja achado mais piedoso a cada dia, e ande submisso e grato àquEle que me salvou, certo de que Ele vai completar a boa obra que Ele começou, até o dia de Cristo Jesus!!

15 de março de 2013

Do Choro


"A glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa; e o Senhor clamou ao homem vestido de linho, que tinha o estojo de escrevedor à cintura, e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e choram por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela." Ez 9:3

"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados." Mt 5:4


            Há uma bem-aventurança para os que choram, o consolo. Essa palavra sempre me trouxe muita paz, a paz de que meu pranto seria consolado por Deus. A paz de que o consolador, o consolador que o próprio Deus enviou (Jo 14:16, 26 e 15:26), me aquietará testemunhando de Cristo, revelando a Palavra de Deus. Quem chora precisa de consolo, e é esta a promessa que temos do próprio Jesus!
            Mas por que eu devo chorar?
            O choro é algo que acompanha o homem desde o seu nascimento. É, sabemos, a primeira manifestação vocal de qualquer ser humano. Eu choro antes de falar. Quando criança eu choro para me comunicar, para que minhas necessidades básicas sejam satisfeitas. Quando mais velho, eu choro para externar emoções, sentimentos de dor, alegria, saudade, medo. Não há quem não chore. Chorar é sinal de que se está vivo.
            Repito, por que eu devo chorar? Um homem regenerado por Cristo, que é templo do Espírito Santo, que não vive mais segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 7:5), que não se inclina para a carne (Ef 2:3), que anda como Cristo andou (1 Jo 2:6), deve chorar pelos mesmos motivos que fazem um homem natural chorar?
            É certo que nossas emoções não são extirpadas com a regeneração, não nos tornamos autômatos frios, desprovidos de sentimentos e afetos. Continuamos nos alegrando, chorando, sentindo prazer e dor, saudades, luto, regozijo e temor. E todas essas coisas podem nos fazer chorar.
Mas, creio eu, existe um tipo de choro que é fruto da nova vida que recebemos de Cristo, que é fruto de termos sido regenerados e estarmos sendo santificados, e este choro, eu vejo bem descrito nesta visão profética de Ezequiel que destaquei no começo do texto. É o choro pelo pecado, o choro do arrependimento, que revela contrição. É o choro da mulher aos pés de Jesus (Lc 7:38), é o choro de Pedro após negar o Senhor (Mt 26:75 e Lc 22:62). É o choro do próprio Cristo ao ver Jerusalém (Lc 19:41). Uma marca da regeneração é que eu choro pelo pecado. E choro em três níveis: eu choro pelo meu próprio pecado; eu choro pelo pecado no meio da igreja; eu choro pelo pecado no mundo. E eu tenho, para este choro, a promessa do consolo que vem do Espírito Santo de Deus.
            Primeiro, eu choro pelo meu pecado. Eu choro porque ofendo a Deus quando peco. Eu choro porque o Espírito Santo me revela quem Cristo é, e ao contemplar Cristo a minha iniquidade, o meu desejo de pecar me parece ainda mais repulsivo. Eu choro porque sinto a tristeza segundo Deus que traz o arrependimento (2Co 7:10). Não é chorar pelas conseqüências do pecado. Chorar pelo que o pecado me causa não é a marca da vida de Cristo. A marca é chorar pela ofensa feita a Ele.
            Segundo, eu choro pelo pecado no meio da igreja. E aí, há duas vertentes: uma, eu choro pelo pecado do meu irmão, que caminha comigo, que está perto e que, como eu, pela graça de Deus foi remido e lavado pelo sangue do Cordeiro; outra, eu choro por toda a igreja, por todos os santos que estão, assim como eu, fugindo do pecado e crucificando a carne. Eu choro pela luta do meu companheiro de caminhada cristã, por aquele que frequenta a minha casa, que cultua o Senhor junto comigo na congregação. Eu choro por ele, porque sei quem sou eu, e como eu também estou sujeito às mesma fraquezas, e como meu coração é igualmente perverso. Um discípulo chora pelo pecado de seu companheiro, para que ele vença o pecado, para que haja contrição e arrependimento, para que haja cura. Mas, não só isso, eu choro também pelo pecado cometido contra  o Senhor por aqueles que estão longe. Eu choro pelo meu irmão que adultera na China, eu choro por aquele que se prostitui na Austrália, eu choro por aquele que mentiu em qualquer parte do mundo. Eu choro pelo músico que faz sucesso cantando inverdades, eu choro pelo pregador que distorce a Palavra, eu choro por cada ministro que tem diluído sua fé e misturado suas convicções aos esquemas mundanos, e choro por cada irmãozinho que tem seguido este engano. Choro pelos que estão perto, e choro pelos que estão longe.
            Terceiro, eu choro pelos pecados do mundo. Choro porque a justiça de Deus será implacável. Choro, porque haverá um dia em que, todo aquele que não creu em Cristo será lançado ao inferno, choro porque o meu Senhor, que me tirou da lama em que eu vivia, é ultrajado a cada pecado cometido por cada homem em cada parte deste planeta. Choro porque, apesar de tanta iniquidade, de tanto pecado, tanta transgressão, Deus ainda derrama sua graça, e produz dias cheios de beleza, noites cheias de luar, e ordena a Seus eleitos que chorem por cada ímpio, por cada ofensor, e que anunciem a Sua Palavra, e que sirvam, e que amem. Choro porque Deus não consumiu hoje várias pessoas que eu conheço e amo, mas não O conhecem, e isso é unicamente por Sua misericórdia. Choro porque um dia choraram por mim, quando eu estava morto em meus delitos e pecados.
            E, para finalizar, confesso a cada leitor, que este texto é uma exortação a mim mesmo, pois, em verdade, eu não tenho chorado. Não por estes motivos, nem com na intensidade com que o pecado é cometido, em seus três níveis. Este texto é um pedido sincero de perdão, ao Senhor e à Sua igreja pela minha negligência. Tenho recebido o consolo do Senhor a cada linha deste texto escrito em lágrimas, e é com estas lágrimas e letras que admoesto os irmãos a chorarem diante do Senhor, por seus pecados, pelos meus pecados, e pelos pecados de todos.
           
            E eu quero chorar todos dias, e ser consolado a cada dia, até que Ele venha!

            E Ele vem sem demora!!

23 de janeiro de 2013

Da unidade


“Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo creia que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.” Jo 17:22-23

“esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; Ef 4:3-4

“Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo,”  Ef 4:13




            A unidade da igreja, a oração de Jesus por todos aqueles que foram separados por Deus, Seus santos, a raça eleita, o povo de propriedade exclusiva Dele (Jo 17:9-24; 1 Pe 2:9), é um tema sempre presente, seja nas conversas entre irmãos, nas ministrações da Palavra  e, claro, em nossas orações. Faz algum tempo, tenho refletido, lido e orado a este respeito, em busca de discernimento do que é unidade aos olhos do Pai. Estas reflexões, publico aqui hoje.
            Os três textos que citei acima, são onde a palavra “unidade” aparece nas Escrituras, sendo que, no texto de João, a expressão traduzida por “unidade” não é a mesma que encontramos no capítulo 4 da carta de Paulo aos Efésios. Em João, a palavra é heis, que significa “um”, o numeral mesmo. Em Efésios, a palavra é “henotes”, esta sim, significando unidade. Existem várias outras referências no NT, indiretas ou usando termos correlatos, à necessidade de que a igreja seja unânime, mas hoje vou me concentrar nestas expressões, traduzidas para o português como “unidade”.
            Paulo fala aqui em duas expressões da unidade, uma, já pronta, que cabe à igreja preservar, a unidade do Espírito; outra para a qual caminhamos, e deveremos chegar, a unidade da fé, que creio ser o objeto da oração de Jesus, onde Ele pede que sejamos “aperfeiçoados na unidade”.
            Unidade de Espírito é inerente à igreja. Toda a igreja nasceu da água e do Espírito, ou não estaria dentro do reino de Deus (Jo 3:5). Não há irregenerados na igreja do Senhor. Pode até haver, e creio mesmo que há, irregenerados nas assembleias de homens, mas na igreja do Senhor já há unidade de Espírito. A ordem que nos é dada, através de Paulo, é que nos esforcemos para preservá-la.
            Unidade de fé é algo que perseguiremos até o fim da nossa caminhada, como diz a Palavra, até chegarmos à perfeita varonilidade. Esta unidade é construída na caminhada de cada remido com o Senhor, no desenvolvimento do serviço de cada santo, através da comunhão de cada um com Jesus, e também através dos ministérios que Ele mesmo estabeleceu para este fim (Ef 4: 11-12).
            Até aqui nenhuma novidade. Está claro nas Escrituras. O que não entendo é porque insistimos, muitas vezes, em um conceito de unidade que é diferente destas duas expressões? Aonde está escrito que unidade significa uma única congregação em cada localidade? Aonde está escrito que unidade se resume a estarem todos debaixo de uma mesma autoridade terrena (às vezes sem sequer estarem todos debaixo da mesma autoridade celestial...)?
            Ora, caros leitores, a igreja do Senhor (eu disse, do Senhor!) já é uma. Está toda coberta pelo mesmo sangue, habitada pelo mesmo Espírito. Nenhuma das suas limitações, dificuldades, pecados eventuais, nada disso é desconhecido de Deus. O Senhor não se surpreende quando erramos, nem se decepciona quando cometemos qualquer deslize. O Senhor foi quem nos deu a fé, Seu Espírito Santo é quem nos leva ao arrependimento. É escolha Dele, nunca mérito nosso, fazer parte da Sua igreja.
            Dito isto, então, o que sobra para nós? Sobra para nós, caminhar Nele, sermos fiéis estudiosos da Sua Palavra, guardar os Seus ensinamentos. Sobra para nós a prática do mútuo serviço, a mútua exortação, sempre baseada na Palavra, colocando em plano secundário nossos usos e costumes, em favor daquilo que está claramente definido como princípio de Deus. Sobra para nós abrir mão da nossa cultura eclesiástica, em favor da comunhão com outros santos.
            Precisamos esquecer esta ideia de que unidade consiste nas perdas de características individuais para que todo mundo seja igual. A analogia usada pelo Senhor foi a de um corpo, onde seus membros diferem em aparência, função, forma, tamanho e, para serem um, não perdem estas diferenças, antes trabalham, cada qual exercendo o seu papel, sob um mesmo governo, seguindo a mesma direção. A Bíblia fala sempre em vínculos, nunca em misturas.
            Servindo ao Senhor hoje na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, sou parte da igreja do Senhor nesta cidade. Tenho sim (e como sou grato a Deus por isso) os meus vínculos de relacionamento e sujeição aqui, mas, tenho também unidade de Espírito com todos os regenerados por Cristo, em todas as congregações, e caminho, na Palavra, para que cheguemos juntos à unidade da fé. Desejo me esforçar com mais diligência para preservar a unidade que já existe, evitando contendas, corrigindo meus irmãos, e aceitando a sua correção, sempre debaixo da autoridade das Escrituras. E para isso preciso a cada dia me despir da minha justiça própria, da minha arrogância espiritual e colocar o meu coração, sempre enganoso, subjugado à autoridade de Cristo em minha vida.
            Vejam bem, esta não é uma apologia ao corporativismo evangélico, que é, a meu ver, mero partidarismo, tampouco acho que tudo que fala em nome de Jesus é igreja, que todo que se diz batizado foi mesmo regenerado, que todo “crente” é cristão. Precisamos mesmo parar de chamar denominação de igreja. Precisamos, sim, expor as heresias absurdas propaladas por algumas instituições religiosas. Precisamos sim, ter critério quanto ao que lemos, vemos e ouvimos, principalmente se traz o famigerado rótulo “gospel”. Precisamos lembrar que a unidade da igreja trata de pessoas, transcende prédios. Precisamos fortalecer os laços interpessoais, ao invés das bandeiras institucionais. Precisamos, mais do que tudo, conhecer a Cristo, conhecer a Verdade, estudar diligentemente as Escrituras, lê-las diariamente, orar com fervor, estudar a nossa história (sim, a história da igreja é a nossa história. Há um só Espírito, lembram?).
            Para concluir, lembro a finalidade da oração de Jesus em favor do nosso aperfeiçoamento na unidade: o mundo crer que Deus O enviou e nos amou! Será mesmo através da nossa fé, aperfeiçoada, a cada dia, que o mundo crerá. Devemos ter em mente que o anúncio do Evangelho é meio de graça, que nenhum de nós sabe o que e como o Espírito Santo está operando em cada indivíduo, e só sabemos quem Deus escolheu quando a eficácia do chamado é manifesta, logo, temos que ter compaixão de todos, e proclamar a todos as boas novas. E isso é um ato de fé. Não se trata de ter fé no nosso próprio empenho, eloquência ou carisma, mas fé no Rei que anunciamos, fé que Ele vai cumprir toda a Sua vontade (Is 46:10). Não há maior prova de que eu verdadeiramente experimentei o amor de Deus que o meu empenho em anunciar o Seu Nome, o Seu governo, a Sua obra e a Sua volta!
           
            E Ele vem!!

            E vem sem demora!!!


29 de novembro de 2012

De madrugada


Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha.(...) Jardim fechado és tu, minha irmã, esposa minha, manancial fechado, fonte selada. Ct 4:7,12

Acordei nesta madrugada, num daqueles momentos em que o sono é interrompido sem qualquer motivo evidente, e olhei para o lado, vi minha esposa dormindo tranquila, olhei todo o nosso quarto, e por alguns instantes, até que o sono voltasse, fiquei imerso em um sentimento de gratidão quase indescritível. Este é o meu assunto de hoje, gratidão, e vou abordá-la de forma bem específica, pessoal, como fui tomado por ela hoje!
            É interessante a forma como eu entendia o que era ser grato, antes de conhecer o Senhor Jesus... eu nunca fui o que se poderia chamar, entre os ímpios, alguém ingrato. Sempre agradeci quando recebia algo, ou alguém me prestava um serviço. Sempre pedi cortesmente, quando eu demandava algo de qualquer pessoa, sobremaneira das mais próximas. Mas isso é tão diferente do que é ser grato... sem conhecermos Jesus, a Sua vida e a Sua obra, não sabemos sequer o que é um “favor”. Sendo sincero, eu caminhei mesmo alguns anos no Evangelho sem entender o significado da graça, logo não sabia o que era ser grato, logo caminhava feito bêbado, quando tenta se manter reto apesar do efeito do álcool que o faz cambalear.

            Hoje, pela graça de Deus, meus olhos são limpos a cada dia, e vejo melhor quem eu sou, quem Deus é, e como esta graça é que opera todas as coisas, com o objetivo de me conformar a Jesus, de fazer-me semelhante a Ele. Só essa percepção seria suficiente para sustentar a minha gratidão por toda a eternidade. A gratidão é fruto da revelação clara de um Deus perfeito, soberano, imutável, justo, amoroso e bom, que elege homens vis, pecadores, iníquos, perversos, contaminados, seduzidos por tudo o que O ofende, para fazê-los santos, separados para Ele, para resplandecerem a Sua luz e anunciarem o Seu Filho, que uma vez morreu por estes homens, para que eles fossem regenerados e justificados diante do Pai. Sei que esta definição pode carecer de profundidade teológica, mas reflete exatamente a forma como me sinto, quando contemplo a beleza do meu Senhor. E eu sou grato por ser conduzido por Ele a amá-Lo, por ser trazido e tratado por Ele sempre que erro (e erro muito...), por ser Dele.

            Mas, como disse no início, hoje fui tomado por esta gratidão imensa, de uma forma particular, específica. E testemunho hoje a minha gratidão ao Senhor por ter recebido Dele uma esposa. E que esposa!!! Sou um entusiasta do meu casamento. Amo estar casado, porque amo o Senhor que criou o casamento, e amo também a esposa que Ele me deu. Olhava, na madrugada, para o lado, e pensava: “que fiz eu para merecer um só segundo com esta mulher?” “Que fiz eu para merecer que ela aceite cada imperfeição do meu caráter, cada dificuldade já conhecida, e cada uma que ainda vai surgir?” ”Que fiz eu para merecer uma mulher que se adapte às minhas manias, e as tome por agradáveis a si?” “Que fiz eu para merecer uma mulher que abra mão de planos, desejos e ambições, investindo no nosso relacionamento?” “Que fiz eu para merecer ouvir dela que me admira, e ver esta admiração revelada em cada gesto ou atitude?”  E ouvi, claramente, o Senhor me responder: você nunca precisou fazer nada... Eu escolhi esta mulher para Mim, e então a dei a você! Ela é minha, fonte selada. Tudo o que você precisa fazer é olhar para Mim, é receber de Mim a força e a sabedoria necessária para ser para ela o que Eu determinei que você seja. Não é você para ela, ou ela para você. São ambos para Mim. Seu casamento é Meu, filho! Seja grato! Seja grato! Você nunca mereceu, nem vai merecer uma filha Minha!

            Chorei quieto diante destas palavras! Chorei de contentamento. Feliz por saber que é Ele e não eu, que sustenta o casamento. Feliz por não precisar confiar em mim, ou nela (nós não somos dignos de confiança, vocês sabem...), mas que eu devo confiar Nele.
            Animo você, leitor, a olhar para Jesus a cada instante do seu casamento. A olhar para Jesus todas as vezes que olhar para seu cônjuge.  Você vai ter outra visão do seu matrimônio. Se você é solteiro, olhe para a perspectiva do casamento dentro do propósito de Deus. Tem que ser para glorificar a Ele. A cada dia, marido e esposa são conformados a Cristo, e Deus usa toda situação cotidiana, toda mesmo, para promover este aperfeiçoamento.

            Animo você, marido, a olhar para a sua esposa como uma filha de Deus. Antes dela ser sua, é Dele! Antes de ter sido criada para lhe auxiliar, foi criada para glorificar a Ele. Trate a sua esposa de forma que Ele fique satisfeito! E Ele vai gerar em você o amor que será o fio condutor da sua vida, expressando a vida Dele. Tenho feito este exercício, e sei bem o quanto a minha esposa é preciosa para Deus, e que preciso de uma medida de graça que me possibilite tê-la como igualmente preciosa para mim. Esta graça, concedida por Deus, muito além da minha (in)capacidade, faz com que eu ame a minha esposa a cada dia mais, faz de mim um homem convicto da indissolubilidade deste laço, faz meu corpo desejá-la, faz de mim seu protetor, seu provedor, responsável por ordenar a minha casa segundo a vontade de Deus.

            Antes de concluir eu não poderia deixar de fazer um breve comentário a respeito dela, daquela que é manifestação do amor e da graça do Pai na minha vida, daquela que foi preparada para mim desde antes da fundação do mundo, minha esposa, companheira, auxiliadora idônea. Deus, em sua soberana bondade e misericórdia, não olhando para toda a sorte de iniquidades em que eu vivia perdido, me deu uma esposa que ama a Ele mais que a mim (e me ama muito...), que serve a Ele antes de me servir, que busca a Ele todos os dias, cuja submissão e proceder me conduzem à oração, à meditação na Palavra, e tornam leve o exercício do meu sacerdócio. Eu tenho em minha esposa esteio, adorno, beleza, santidade. Eu tenho uma mulher que preenche todos os anseios do meu coração, que me satisfaz, sacia os meus apetites. Com ela eu oro, adoro, compartilhamos juntos a Palavra. Com ela eu dou risadas, conto piadas, vejo memes na internet, tiro fotos, brinco com as nossas cachorrinhas. Com ela eu lavo louça (apesar de sujar muito mais...), com ela eu traço rotas, tenho ideias, vejo filmes, como pipoca, faço dieta, ando na praia. Com ela eu dou graças ao Pai. Com ela eu caminho para Ele.

            Sou grato ao Senhor porque o casamento que Ele me deu me torna mais Dele! Sou grato por madrugadas como esta, onde lágrimas e sorrisos se harmonizam.

            E seremos uma só carne!!! E já somos!!! E seremos assim, até que Ele venha!!!
            E Ele vem!!!!

21 de novembro de 2012

Do arrependimento II


"Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." Lc 14.33.


            O arrependimento, fruto da bondade de Deus (Rm 2:4), é condição essencial à conversão, à entrada no Reino de Deus. Só um homem arrependido, contrito, é regenerado. Não há regeneração sem arrependimento!
            O arrependimento bíblico é uma mudança de atitude interior, uma mudança de governo. Quem antes era escravo do pecado, agora é servo de Deus! E como isso é operado, em termos práticos, na vida diária, pelo Espírito Santo?
            Jesus nunca pregou o Evangelho, buscando facilitar a sua aceitação, buscando torná-lo agradável. Jesus, ao contrário, sempre enfatizou as demandas e exigências da vida cristã. Vemos nos evangelhos isso com muita clareza:

“E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”  Mt 10:38-39

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mt 16:24-25

“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Mc 8:34-35

“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” Mc 10:21

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” Lc 9:23-24

“Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” Jo 12:25

            Como a igreja perdeu esta pungência, em sua pregação...  hoje são enfatizadas a prosperidade material, a relevância cultural do cristão no mundo, a adequação do crente à sociedade, a conformação aos valores e hábitos dos ímpios, tudo isto disfarçado de “contextualização missional”. Jesus foi o obreiro exemplar e nunca usou estes estratagemas. Ele cria no poder de Deus expresso em Seu evangelho, como suficiente para gerar arrependimento e fé, para a salvação dos Seus eleitos! E não há porque hoje enfatizarmos algo diferente do que fez o nosso Senhor! E a ênfase é no arrependimento e na fé, para que haja a salvação. A ênfase é na soberania e suficiência de Cristo neste processo. É Ele quem nos conduz ao arrependimento, é Ele que nos dá a fé, e é Ele quem nos salva, sem mérito nosso, unicamente por Sua graça.
            Voltando ao início do texto, onde falávamos da operação prática do arrependimento, vemos que Jesus coloca quatro situações necessárias para esse operar divino:

1.      Negar a si mesmo – reconhecer Cristo como Senhor, significa negar qualquer ação minha como capaz de prover tanto minha salvação, quanto meu caminhar até o Alvo. Negar a mim mesmo, significa na prática, colocar a vontade da minha carne sujeita à vontade de Deus. Significa praticar o verso da oração de Mateus 6, onde digo que “seja feita a Tua vontade, na terra (a começar em mim), como no céu”. Significa meditar incessantemente na Palavra, orar sem cessar, ler a Bíblia, procurando aplicar cada ponto à minha vida, conhecer o meu Senhor, para que haja discernimento da Sua vontade. Significa nunca confiar em meu coração.
2.      Tomar a cruz – para que seja efetivo esse negar-me, preciso ter consciência de que a cruz faz parte da caminhada, desde a conversão até o meu encontro com o Senhor. Tomar a cruz é seguir os passos de Jesus, é fazer o que Ele fez, é andar a segunda milha (Mt 5:41), dar a outra face (Mt 5:39), é mortificar aquilo que ainda fica de mim mesmo é, após negar meu “eu”, crucificá-lo, para que eu esteja totalmente rendido a Cristo.
3.      Perder a vida – bom, se eu nego a mim mesmo e tomo a cruz, perder a vida estará junto. A cruz é um instrumento de morte, e quem diz que a toma, mas ainda insiste em preservar a sua vida, nunca entendeu a regeneração. Se eu morri realmente, se fui regenerado, perdi a minha vida, e hoje Cristo vive em mim (Gl 2:20). Se alguém se diz cristão e se vê amarrado ao senso de autopreservação, precisa se arrepender.
4.      Renunciar a tudo – renúncia não deve ser confundida com cruz. São coisas diferentes, apesar de andarem juntas. Um exemplo é o texto de Mateus 5:39, onde Jesus nos ensina a dar a outra face. A renúncia precede o tomar a cruz. Eu renuncio quando abro mão do direito de revidar a agressão, e tomo a cruz quando dou a outra face. Em Mateus 5:41, eu renuncio quando abro mão do direito de não caminhar uma milha, e tomo a cruz, quando ando a segunda. Não haverá o “tomar a cruz”, se não houver a renúncia. Renunciar a tudo significa não me justificar, não tentar fazer valer o meu senso de justiça, mas crer que o Senhor que me escolheu, me salvou, me justificou, está me santificando e vai me glorificar.

Que estas verdades eternas sejam vida prática em mim, testemunhem minha fé a todos os que convivem comigo, e que eu persevere nelas, pela graça de Deus, e pelo Seu poder, que opera em mim o querer e o realizar (Fp 2:13), até que Ele venha.

E Ele vem, sem demora!

14 de novembro de 2012

Do arrependimento I


"Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos disse-lhes: Se alguém que vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”
Mc 8.34-36

            O arrependimento é uma das palavras mais mal compreendidas da Bíblia, e o seu correto entendimento é fundamental para a vida de todo cristão. Na verdade, sem o entendimento preciso sobre arrependimento, sequer se pode falar em conversão, em regeneração, em justificação, em fé.
            Arrependimento significa mudança de atitude, mudança de governo. E é um dom de Deus, assim como a fé.

“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” 2Co  7:10

“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
Rm 2:4

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus."
Ef 2:8

            Está claro, através da Palavra, que fé e arrependimento são essenciais para a conversão, e também está claro que, ambos são dons de Deus, que Ele concede conforme o Seu propósito, a Sua graça, o Seu beneplácito, com vistas a manifestar a Sua glória.
            Uma coisa essencial que precisamos compreender é que não há em homem nenhum o desejo de se arrepender. A carne gosta do pecado, gosta de ser independente, gosta de se governar. O homem natural precisa, antes mesmo de se converter, de uma operação sobrenatural do Senhor, através do Espírito Santo, para levá-lo a estar convencido do seu pecado, da justiça de Deus (que requis o sacrifício de Jesus Cristo), e do Seu juízo, conforme as palavras do próprio Cristo:

“E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo.”
Jo 16:8

            Jesus também deixa explícito o coração do homem natural, quando explana para um grupo de fariseus:

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; E não quereis vir a mim para terdes vida.”
Jo 5:39-40

            O coração, o caráter, de qualquer homem, sem o Senhor, não é nem um milímetro melhor do que o do pior dos fariseus. E se eles não queriam ir a Cristo, eu, sem o Espírito Santo me convencer e trabalhar em mim, também não vou querer nunca. Enquanto for pregado e crido, no mundo e no meio das congregações, que o arrependimento cabe ao homem, o entendimento e o desfrutar dos seus efeitos será nulo. Deus leva, conforme a Sua vontade soberana, o homem ao arrependimento, Deus opera no homem a tristeza que produz este arrependimento, Deus convence o homem do pecado, e o homem que é tocado desta forma por Deus, inevitavelmente vai até Ele, arrependido, contrito, humilhado, rendido. Como Jesus mesmo diz, o homem que Deus tocou não pode resistir ao Seu toque:

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” 
Jo 6:37

            O entendimento pleno da operação sobrenatural que produz a Metanóia, a mudança de governo, de mente, de atitude interior, que é o arrependimento, a clareza de que é algo que o Senhor faz, e não o homem, traz para aquele que foi realmente regenerado um sentimento, também sobrenatural, de repúdio ao pecado que antes lhe agradava, um desejo de andar segundo aquEle que o chamou, uma necessidade de proclamar as Suas virtudes, um sentimento de que é forasteiro neste mundo, que antes o abrigava confortavelmente. O homem espiritual, revestido por Cristo, vive o arrependimento constante, sabedor de que a sua carne nunca se converte, mas sim, se rende ao poder do Espírito Santo que nele habita, e sabe também que a santificação é uma promessa de Deus, e que a luta contra a carne é diária. Ela vai durar até que Cristo retorne, e nos ache combatendo este combate, para o qual Ele nos forja a cada dia, através da Sua Palavra, do Seu poder que opera em nós, do nosso relacionamento com Ele, onde oramos, jejuamos, louvamos e clamamos por Sua graça.
            E viveremos assim, em guerra, mas Nele, até que Ele venha!

            E Ele vem, sem demora!!!!

31 de outubro de 2012

Da Exaltação



“Esteja absolutamente certa, toda a casa de Israel, que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” At 2:36
“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira, lhe dando um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus, todo joelho se dobre  nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai.” Fp 2:9-11

            A exaltação de Jesus é, antes de tudo, inerente ao Seu esvaziamento. Faz parte da humilhação a que Ele se propôs. Ele sempre existiu, era Deus, portanto, se não tivesse se esvaziado, não seria necessária a Sua exaltação. Jesus é o cumprimento perfeito do princípio de que aquele que se humilha será exaltado (Mt 23:12; Lc 14:11; Lc 18:14). Jesus trouxe o ensino, Jesus foi o exemplo vivo. Ele se humilhou. Deus O exaltou!
            A exaltação de Jesus nos ensina ainda algumas coisas. A primeira é que ela deve nos fazer contritos, cônscios da nossa necessidade Dele. Pedro expôs isso em At 2:36, e logo após ele declarar a exaltação de Jesus, o povo que o ouvia se desesperou, queria de todo jeito saber o que fazer, se viu carente, pobre, miserável, e então recebeu a ordem do Espírito Santo, através de Pedro para se arrependerem. Portanto, a primeira consequência de termos clareza da exaltação de Jesus é o arrependimento, a contrição, a desesperada necessidade Dele.
            A segunda coisa, é que Deus não só O exaltou, mas O exaltou sobremaneira (huperupsoo, no grego), à mais alta posição, à máxima altura. A exaltação de Jesus O colocou à destra do Pai, acima de toda a criação, com duas finalidades: estabelecer em definitivo a Sua autoridade sobre tudo e todos, dos anjos que estão ao redor do trono de Deus, até os demônios, nos recônditos do inferno. Nada, nem ninguém está fora do alcance do senhorio de Cristo, do Seu juízo, da Sua vontade. Aqueles que Ele escolheu ter misericórdia, serão convencidos pelo Seu Espírito Santo e desfrutarão da eternidade com Ele. Os demais, também estão sujeitos à Sua vontade, e por ele, padecerão na eternidade do inferno. A outra finalidade é na verdade a finalidade suprema de toda a criação: que Deus seja glorificado. Nada existe com outro fim, e vida e a obra de Jesus não seria nunca a exceção.  Jesus viveu na terra para glorificar a Deus; tomou sobre Si os nossos pecados, para glorificar a Deus; foi crucificado e ressuscitou para glorificar a Deus; foi exaltado para glorificar a Deus.
            O que isso nos traz, Seus discípulos, de aprendizado prático?
  1.      A contemplação de Cristo exaltado nos céus precisa me trazer contrição, consciência da minha fraqueza, minha incapacidade, minha inutilidade. Não é apenas a cruz que me traz arrependimento, mas também a exaltação. Toda vez que eu olhar para Jesus, tenho que ver a minha impureza, a minha indignidade, a dependência total da Sua graça, sem a qual eu mereceria a morte. Se isso não reflete o meu contemplar a Cristo, eu certamente estou olhando para o lugar errado. E se olho para o lugar errado, nunca vou chegar no destino certo;
  2.      Cristo é meu Senhor! Certíssimo! Mas Cristo é Senhor também de tudo e todos. Cristo é Senhor daqueles que o negam, que o blasfemam, que vivem em pecado. E todos estão debaixo da Sua soberania. Essa consciência revela a imensidão da Sua graça sobre mim. Enche-me de gratidão. Conduz-me a proclamar. Saber que tudo está debaixo da autoridade Dele me traz descanso e desafio, paciência e coragem, temor e ousadia. Traz, acima de tudo, a certeza de que Ele começou a obra em mim, e Ele vai terminá-la. Até o dia de Cristo Jesus!!!

E que Ele venha, sem demora!!!

(escrito em 21 de outubro de 2012)

Da Oração



“E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.”  Lc 11:1
“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” Rm 8:26
“Orai sem cessar.” 1 Ts 5:17

            A oração é algo sobre o qual tenho sido conduzido a meditar nestes dias. Mais particularmente, a minha vida de oração. O que compartilho hoje é algo que o Espírito Santo vem ministrando a mim, me corrigindo, me ajustando, com o propósito eterno de que o nome do Senhor seja glorificado.
            Antes de começar, expresso humildemente gratidão a Deus, por Sua maravilhosa e incomparável graça, de se revelar a mim, pecador, renovando sobre mim a Sua misericórdia e Seu favor, absolutamente imerecidos por mim. Agradeço a Ele por me ver segundo a Sua benignidade e não segundo a minha vileza, nem segundo as minhas muitas limitações. Sou grato por poder, de minha parte, e através de Jesus, chegar a Deus, falar com Ele e Dele para as pessoas a meu redor. Faço minhas as palavras de Isaías: “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos.” Is 6:5. Que Ele preserve em mim a convicção de quem eu sou sem Ele, e do que Sou Nele.
            Voltemos, pois, à oração. Separei estes três textos das escrituras, para traçar uma linha de raciocínio que nos conduza a meditar e aplicar a Palavra às nossas vidas.  O primeiro texto precede a oração que Jesus ensinou aos discípulos, o popular “Pai Nosso”(ver também Mt 6:9-13). Ele mostra que, ao contrário de um conceito popularmente difundido que a oração é algo “de qualquer jeito”, ela pode ser aprendida, não como uma fórmula, mas como um princípio. O segundo texto, deixa clara a nossa incapacidade de fazer sequer uma oração conveniente, a nossa dependência do Espírito Santo como intercessor diante de Deus. E o terceiro texto traz uma ordem, um preceito apostólico, determinando a prática contínua da oração. É tremenda a forma como estes textos são cheios de coerência entre si, e como, ao uni-los, chegamos a conclusões desafiadoras. Nesta meditação, abordarei algumas destas conclusões, e oro sinceramente que o Senhor revele outras a cada um que lê, e que Seu corpo seja mutuamente edificado.
            A primeira conclusão é a de que Jesus deixou não só o exemplo da oração incessante, como nos legou um princípio fundamental da oração: ela não deve apenas ser feita em Seu nome, mas segundo a Sua vontade, com o mesmo objetivo da Sua encarnação, a saber: glorificar a Deus (Jo 14:13-14; 15:7; 1Jo 5:14). Sempre que eu abrir a minha boca para orar, ou mesmo fazê-lo em silêncio, este princípio tem que estar presente. Algumas perguntas práticas podem ser úteis: Jesus oraria por isso? Atender à minha súplica ou petição condiz com a vontade de Deus revelada na Sua palavra? Deus é glorificado nesta oração? Se alguma destas perguntas não puder ser respondida com um claro “SIM”, muito provavelmente a oração nem devesse ser feita. Claro que não estou sugerindo que fiquemos a cada momento de oração, fazendo um “teste” para validá-la. Isso seria impraticável. O que eu sugiro, e tenho aplicado à minha vida nestes dias é que o nosso dia-a-dia responda “SIM” a estas três perguntas o tempo todo. Então, as orações estarão sem dúvidas no padrão que o Senhor estabeleceu.
            A segunda conclusão é que a primeira é totalmente impossível para mim sem a intervenção poderosa do Espírito Santo. Não sou capaz de sondar meu coração, não sei discernir meus erros, e minha carne nunca quer fazer a vontade de Deus. (Jr 17:9-10; Sl 19:12). Minhas orações, por mim mesmo, refletem as minhas limitações, o meu coração corrupto e perverso, as minhas concupiscências, o meu desejo de auto-realização. Preciso então da operação do Espírito Santo em cada oração que faço, para que ela chegue aceitável a Deus. Preciso, como disse um antigo pregador, que o Senhor Jesus lave minhas orações com Seu sangue, e com Sua santa assinatura, elas se tornem válidas diante do trono de Deus.  Mas, veja bem, não dependo de Deus apenas para adequar minhas orações; preciso Dele até mesmo para desejar orar (Fp 2:13). Na verdade, há em mim (em nós) um misto de fé e incredulidade. E esta parte de incredulidade muitas vezes me faz tomar diversas atitudes e realizar inúmeras atividades sem colocá-las diante de Deus. Porque digo incredulidade? Porque orar, em essência, é admitir minha insuficiência naquele ponto, é dizer: Senhor, eu oro a Ti, porque de mim mesmo não posso esperar nada. É confessar diante de Deus que aquilo pelo que oro é algo fora do meu alcance, mas ao alcance Dele. Portanto, quando eu deixo de orar em determinada situação estou, na verdade, dizendo a Deus que, naquele ponto eu me viro bem sozinho. Naquela questão eu sou suficiente, meu conhecimento, ou experiência bastam. Isso é ou não é incredulidade, no seu conceito mais elementar? Claro que é! Na hora do perigo, do risco iminente, à beira da morte ou de alguma outra situação desesperadora, certamente recorro à oração. Aliás, quem não recorre? Até o ímpio reconhece o poder de Deus na hora em que se vê completamente perdido. A pergunta é: em algum momento, sem Deus, não estamos completamente perdidos? Concluo, portanto, que não apenas não sei orar como convém, mas também, em boa parte das situações, não quero orar. E se Deus, na Sua infinita misericórdia e por Sua graça, não operar em mim, qualquer esforço meu será inútil. Qualquer oração será não só vil, mas ineficaz.
            A terceira conclusão advém das duas primeiras, e atende perfeitamente ao preceito apostólico de orar incessantemente. Concluímos que somos chamados a uma vida dedicada à obediência ao que Cristo disse e fez, a uma vida totalmente sujeita à vontade de Deus, a uma vida com a finalidade de glorificar a Ele (Ef 1:4). Concluímos que a oração é fruto desta vida, e que ambas, vida e oração, são geradas em nós pelo próprio Senhor, que dependemos inteiramente Dele para querer esta vida, para realizar cada oração. Como, então, não será incessante a nossa oração? Como dar cada passo em nossas vidas sem colocá-lo diante de Deus? Como acordar sem, antes de levantar, agradecer a Ele por mais um dia de vida, dádiva que, com certeza, não merecemos? Como sair de casa para trabalhar sem pedir a Sua presença conosco no trânsito, nas demandas profissionais? Como você, dona de casa, pode começar seus afazeres sem declara a total dependência Dele? Como você, Pai, ou Mãe, imagina proteger seus filhos, guardá-los de cada mal que espreita em cada esquina, sem rogar a Deus por eles? Como você, estudante, tem a pretensão de absorver algum conhecimento, se Ele não lhe conceder a aptidão para tal? Como cada um de nós tem a expectativa de cumprir o “Ide (ou Indo)” de Mateus 28:18-20, se não pedirmos que Ele fale através de nós? Ora, queridos, eu poderia elencar aqui cada minuto das nossas vidas, e em todos eles, sem exceção, fica evidente a nossa necessidade de Deus. E cada instante em que me esqueço disso, em que eu não declaro isso (e eu declaro isso orando), eu me levanto contra a soberania de Deus, e digo a Ele: agora eu não preciso de Ti. Isso aqui eu resolvo só. Pode deixar. E tantas vezes eu tenho dito isso a Deus… e em todas estas vezes eu estou redondamente enganado. E em todas elas eu peco.
            Este texto de hoje expressa, além da gratidão já dita, um profundo e sincero arrependimento pelas vezes em que eu pequei contra meu Senhor, por não orar, por não colocar diante Dele a minha vida. Que a contrição que eu sinto hoje alcance vocês, pela graça de Deus, e que, por meio Dele, cheguemos juntos à vida abundante que Ele nos chamou para viver. Eu tenho fé que chegaremos lá, até que Ele venha!
            E Ele vem! E vem sem demora!

(escrito em 19 de setembro de 2012)