21 de novembro de 2012

Do arrependimento II


"Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo." Lc 14.33.


            O arrependimento, fruto da bondade de Deus (Rm 2:4), é condição essencial à conversão, à entrada no Reino de Deus. Só um homem arrependido, contrito, é regenerado. Não há regeneração sem arrependimento!
            O arrependimento bíblico é uma mudança de atitude interior, uma mudança de governo. Quem antes era escravo do pecado, agora é servo de Deus! E como isso é operado, em termos práticos, na vida diária, pelo Espírito Santo?
            Jesus nunca pregou o Evangelho, buscando facilitar a sua aceitação, buscando torná-lo agradável. Jesus, ao contrário, sempre enfatizou as demandas e exigências da vida cristã. Vemos nos evangelhos isso com muita clareza:

“E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á”  Mt 10:38-39

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” Mt 16:24-25

“E chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Mc 8:34-35

“E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me.” Mc 10:21

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” Lc 9:23-24

“Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.” Jo 12:25

            Como a igreja perdeu esta pungência, em sua pregação...  hoje são enfatizadas a prosperidade material, a relevância cultural do cristão no mundo, a adequação do crente à sociedade, a conformação aos valores e hábitos dos ímpios, tudo isto disfarçado de “contextualização missional”. Jesus foi o obreiro exemplar e nunca usou estes estratagemas. Ele cria no poder de Deus expresso em Seu evangelho, como suficiente para gerar arrependimento e fé, para a salvação dos Seus eleitos! E não há porque hoje enfatizarmos algo diferente do que fez o nosso Senhor! E a ênfase é no arrependimento e na fé, para que haja a salvação. A ênfase é na soberania e suficiência de Cristo neste processo. É Ele quem nos conduz ao arrependimento, é Ele que nos dá a fé, e é Ele quem nos salva, sem mérito nosso, unicamente por Sua graça.
            Voltando ao início do texto, onde falávamos da operação prática do arrependimento, vemos que Jesus coloca quatro situações necessárias para esse operar divino:

1.      Negar a si mesmo – reconhecer Cristo como Senhor, significa negar qualquer ação minha como capaz de prover tanto minha salvação, quanto meu caminhar até o Alvo. Negar a mim mesmo, significa na prática, colocar a vontade da minha carne sujeita à vontade de Deus. Significa praticar o verso da oração de Mateus 6, onde digo que “seja feita a Tua vontade, na terra (a começar em mim), como no céu”. Significa meditar incessantemente na Palavra, orar sem cessar, ler a Bíblia, procurando aplicar cada ponto à minha vida, conhecer o meu Senhor, para que haja discernimento da Sua vontade. Significa nunca confiar em meu coração.
2.      Tomar a cruz – para que seja efetivo esse negar-me, preciso ter consciência de que a cruz faz parte da caminhada, desde a conversão até o meu encontro com o Senhor. Tomar a cruz é seguir os passos de Jesus, é fazer o que Ele fez, é andar a segunda milha (Mt 5:41), dar a outra face (Mt 5:39), é mortificar aquilo que ainda fica de mim mesmo é, após negar meu “eu”, crucificá-lo, para que eu esteja totalmente rendido a Cristo.
3.      Perder a vida – bom, se eu nego a mim mesmo e tomo a cruz, perder a vida estará junto. A cruz é um instrumento de morte, e quem diz que a toma, mas ainda insiste em preservar a sua vida, nunca entendeu a regeneração. Se eu morri realmente, se fui regenerado, perdi a minha vida, e hoje Cristo vive em mim (Gl 2:20). Se alguém se diz cristão e se vê amarrado ao senso de autopreservação, precisa se arrepender.
4.      Renunciar a tudo – renúncia não deve ser confundida com cruz. São coisas diferentes, apesar de andarem juntas. Um exemplo é o texto de Mateus 5:39, onde Jesus nos ensina a dar a outra face. A renúncia precede o tomar a cruz. Eu renuncio quando abro mão do direito de revidar a agressão, e tomo a cruz quando dou a outra face. Em Mateus 5:41, eu renuncio quando abro mão do direito de não caminhar uma milha, e tomo a cruz, quando ando a segunda. Não haverá o “tomar a cruz”, se não houver a renúncia. Renunciar a tudo significa não me justificar, não tentar fazer valer o meu senso de justiça, mas crer que o Senhor que me escolheu, me salvou, me justificou, está me santificando e vai me glorificar.

Que estas verdades eternas sejam vida prática em mim, testemunhem minha fé a todos os que convivem comigo, e que eu persevere nelas, pela graça de Deus, e pelo Seu poder, que opera em mim o querer e o realizar (Fp 2:13), até que Ele venha.

E Ele vem, sem demora!

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