21 de março de 2013

De mim


            Durante anos, após a minha conversão, eu incorri em algo que eu considero hoje um erro: eu sempre medi Deus por parâmetros que eu possuía. Por exemplo, eu sempre cri  que Deus é amor, mas o parâmetro de amor era, ao menos em parte, influenciado pelo que eu entendia sobre amor. E isso se aplicava também a outros atributos de Deus, a saber, a ira, a justiça, a soberania, a misericórdia e a graça. Isso me fez crer no meu livre-arbítrio, me fez achar que a minha decisão de escolher Jesus havia sido determinante na minha conversão, a despeito das circunstâncias desta serem claramente contrárias a qualquer interferência minha.
       Eu acreditava que Jesus havia morrido pelos pecados de todos, e quem aceitasse isso seria salvo, o restante, condenado. Acreditava que o "crer" dependia de mim. Não dizia isso claramente, muitas vezes, mas minhas atitudes refletiam isso. Acreditava que Deus fazia uma parte, ia até certo ponto, e a partir daí, era comigo, era minha escolha. Era, sei disso hoje, um sinergista.

      Há um ano, aproximadamente, incomodado por alguns escritos recentes, de homens cujo posicionamento e visão eu já admirava, como Paul Washer, John McArthur e John Piper, além de alguns não tão recentes, como Martyn Lloyd-Jones e Leonard Ravenhill, eu comecei a estudar mais detidamente as Escrituras e ser confrontado por elas quanto à fundamentação bíblica do que eu cria.

           Este foi o primeiro ponto. Como sou muito curioso, e estes autores são relativamente recentes, resolvi percorrer a história da igreja, em busca de confirmação do que o Senhor já vinha me falando, afinal, com poucos anos de convertido, eu poderia me enganar e ser tendencioso na interpretação do que eu lia na Bíblia. Encontrei então os textos de Jonathan Edwards, George Whitefield e Charles Spurgeon, e vi que aquilo que me confrontou não era um entendimento novo das Escrituras, vi mais, vi Richard Baxter, John Owen, Thomas Watson, e outros chamados puritanos, que confirmavam o que eu já entendi claramente como verdade a respeito de Deus e Sua obra de redenção particular para com o Seu povo. Os puritanos me adicionaram a certeza de que esta verdade deve gerar uma vida verdadeiramente piedosa, e isso alegrou meu coração, afinal doutrina tem que gerar vida, e vida transformada.

          Recuando um pouco mais no tempo, cheguei aos reformadores, sobretudo João Calvino, que sistematizou seu estudo de forma muito clara, atribuindo, em conformidade com o que diz a Bíblia, a salvação somente ao Senhor. Talvez por este legado tenha ficado a designação de calvinista a todo aquele que é, na verdade, monergista, isto é crê que Deus opera 100% da salvação do homem. E não há refutação bíblica consistente, apenas como disse no começo deste texto, há o fato inconteste de que essa idéia humilha o homem ao máximo, ao tirar dele qualquer mérito na sua própria salvação (ainda que seja o mérito de ter escolhido Jesus). Talvez seja esta humilhação que nos é imposta que torne este ensino tão desconfortável.
Mas Calvino não "inventou" nada. Se voltarmos um pouco mais de mil anos, chegaremos a Agostinho, cujo discurso é exatamente o mesmo, e está totalmente em conformidade com o ensino apostólico que aprouve ao Senhor registrar para a instrução dos Seus eleitos.

          Diante de tantas evidências, que corroboram plenamente o ensino bíblico, eu me vi rendido às doutrinas da graça, ao monergismo, e esta rendição me tornou um homem mais grato ao Senhor, mais cônscio de quem sou, mais pronto a orar, a chorar diante dEle, a proclamar o Evangelho do Reino de Deus a todas as pessoas, para que através da pregação da Palavra aqueles que o Senhor elegeu sejam reunidos a Ele. 

           Que eu nunca seja achado omisso neste ministério para o qual fomos todos chamados ao sermos regenerados. Que eu seja achado mais piedoso a cada dia, e ande submisso e grato àquEle que me salvou, certo de que Ele vai completar a boa obra que Ele começou, até o dia de Cristo Jesus!!

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