15 de março de 2013

Do Choro


"A glória do Deus de Israel se levantou do querubim sobre o qual estava, indo até à entrada da casa; e o Senhor clamou ao homem vestido de linho, que tinha o estojo de escrevedor à cintura, e lhe disse: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e choram por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela." Ez 9:3

"Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados." Mt 5:4


            Há uma bem-aventurança para os que choram, o consolo. Essa palavra sempre me trouxe muita paz, a paz de que meu pranto seria consolado por Deus. A paz de que o consolador, o consolador que o próprio Deus enviou (Jo 14:16, 26 e 15:26), me aquietará testemunhando de Cristo, revelando a Palavra de Deus. Quem chora precisa de consolo, e é esta a promessa que temos do próprio Jesus!
            Mas por que eu devo chorar?
            O choro é algo que acompanha o homem desde o seu nascimento. É, sabemos, a primeira manifestação vocal de qualquer ser humano. Eu choro antes de falar. Quando criança eu choro para me comunicar, para que minhas necessidades básicas sejam satisfeitas. Quando mais velho, eu choro para externar emoções, sentimentos de dor, alegria, saudade, medo. Não há quem não chore. Chorar é sinal de que se está vivo.
            Repito, por que eu devo chorar? Um homem regenerado por Cristo, que é templo do Espírito Santo, que não vive mais segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm 7:5), que não se inclina para a carne (Ef 2:3), que anda como Cristo andou (1 Jo 2:6), deve chorar pelos mesmos motivos que fazem um homem natural chorar?
            É certo que nossas emoções não são extirpadas com a regeneração, não nos tornamos autômatos frios, desprovidos de sentimentos e afetos. Continuamos nos alegrando, chorando, sentindo prazer e dor, saudades, luto, regozijo e temor. E todas essas coisas podem nos fazer chorar.
Mas, creio eu, existe um tipo de choro que é fruto da nova vida que recebemos de Cristo, que é fruto de termos sido regenerados e estarmos sendo santificados, e este choro, eu vejo bem descrito nesta visão profética de Ezequiel que destaquei no começo do texto. É o choro pelo pecado, o choro do arrependimento, que revela contrição. É o choro da mulher aos pés de Jesus (Lc 7:38), é o choro de Pedro após negar o Senhor (Mt 26:75 e Lc 22:62). É o choro do próprio Cristo ao ver Jerusalém (Lc 19:41). Uma marca da regeneração é que eu choro pelo pecado. E choro em três níveis: eu choro pelo meu próprio pecado; eu choro pelo pecado no meio da igreja; eu choro pelo pecado no mundo. E eu tenho, para este choro, a promessa do consolo que vem do Espírito Santo de Deus.
            Primeiro, eu choro pelo meu pecado. Eu choro porque ofendo a Deus quando peco. Eu choro porque o Espírito Santo me revela quem Cristo é, e ao contemplar Cristo a minha iniquidade, o meu desejo de pecar me parece ainda mais repulsivo. Eu choro porque sinto a tristeza segundo Deus que traz o arrependimento (2Co 7:10). Não é chorar pelas conseqüências do pecado. Chorar pelo que o pecado me causa não é a marca da vida de Cristo. A marca é chorar pela ofensa feita a Ele.
            Segundo, eu choro pelo pecado no meio da igreja. E aí, há duas vertentes: uma, eu choro pelo pecado do meu irmão, que caminha comigo, que está perto e que, como eu, pela graça de Deus foi remido e lavado pelo sangue do Cordeiro; outra, eu choro por toda a igreja, por todos os santos que estão, assim como eu, fugindo do pecado e crucificando a carne. Eu choro pela luta do meu companheiro de caminhada cristã, por aquele que frequenta a minha casa, que cultua o Senhor junto comigo na congregação. Eu choro por ele, porque sei quem sou eu, e como eu também estou sujeito às mesma fraquezas, e como meu coração é igualmente perverso. Um discípulo chora pelo pecado de seu companheiro, para que ele vença o pecado, para que haja contrição e arrependimento, para que haja cura. Mas, não só isso, eu choro também pelo pecado cometido contra  o Senhor por aqueles que estão longe. Eu choro pelo meu irmão que adultera na China, eu choro por aquele que se prostitui na Austrália, eu choro por aquele que mentiu em qualquer parte do mundo. Eu choro pelo músico que faz sucesso cantando inverdades, eu choro pelo pregador que distorce a Palavra, eu choro por cada ministro que tem diluído sua fé e misturado suas convicções aos esquemas mundanos, e choro por cada irmãozinho que tem seguido este engano. Choro pelos que estão perto, e choro pelos que estão longe.
            Terceiro, eu choro pelos pecados do mundo. Choro porque a justiça de Deus será implacável. Choro, porque haverá um dia em que, todo aquele que não creu em Cristo será lançado ao inferno, choro porque o meu Senhor, que me tirou da lama em que eu vivia, é ultrajado a cada pecado cometido por cada homem em cada parte deste planeta. Choro porque, apesar de tanta iniquidade, de tanto pecado, tanta transgressão, Deus ainda derrama sua graça, e produz dias cheios de beleza, noites cheias de luar, e ordena a Seus eleitos que chorem por cada ímpio, por cada ofensor, e que anunciem a Sua Palavra, e que sirvam, e que amem. Choro porque Deus não consumiu hoje várias pessoas que eu conheço e amo, mas não O conhecem, e isso é unicamente por Sua misericórdia. Choro porque um dia choraram por mim, quando eu estava morto em meus delitos e pecados.
            E, para finalizar, confesso a cada leitor, que este texto é uma exortação a mim mesmo, pois, em verdade, eu não tenho chorado. Não por estes motivos, nem com na intensidade com que o pecado é cometido, em seus três níveis. Este texto é um pedido sincero de perdão, ao Senhor e à Sua igreja pela minha negligência. Tenho recebido o consolo do Senhor a cada linha deste texto escrito em lágrimas, e é com estas lágrimas e letras que admoesto os irmãos a chorarem diante do Senhor, por seus pecados, pelos meus pecados, e pelos pecados de todos.
           
            E eu quero chorar todos dias, e ser consolado a cada dia, até que Ele venha!

            E Ele vem sem demora!!

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