31 de outubro de 2012

Da Oração



“E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos.”  Lc 11:1
“E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” Rm 8:26
“Orai sem cessar.” 1 Ts 5:17

            A oração é algo sobre o qual tenho sido conduzido a meditar nestes dias. Mais particularmente, a minha vida de oração. O que compartilho hoje é algo que o Espírito Santo vem ministrando a mim, me corrigindo, me ajustando, com o propósito eterno de que o nome do Senhor seja glorificado.
            Antes de começar, expresso humildemente gratidão a Deus, por Sua maravilhosa e incomparável graça, de se revelar a mim, pecador, renovando sobre mim a Sua misericórdia e Seu favor, absolutamente imerecidos por mim. Agradeço a Ele por me ver segundo a Sua benignidade e não segundo a minha vileza, nem segundo as minhas muitas limitações. Sou grato por poder, de minha parte, e através de Jesus, chegar a Deus, falar com Ele e Dele para as pessoas a meu redor. Faço minhas as palavras de Isaías: “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos.” Is 6:5. Que Ele preserve em mim a convicção de quem eu sou sem Ele, e do que Sou Nele.
            Voltemos, pois, à oração. Separei estes três textos das escrituras, para traçar uma linha de raciocínio que nos conduza a meditar e aplicar a Palavra às nossas vidas.  O primeiro texto precede a oração que Jesus ensinou aos discípulos, o popular “Pai Nosso”(ver também Mt 6:9-13). Ele mostra que, ao contrário de um conceito popularmente difundido que a oração é algo “de qualquer jeito”, ela pode ser aprendida, não como uma fórmula, mas como um princípio. O segundo texto, deixa clara a nossa incapacidade de fazer sequer uma oração conveniente, a nossa dependência do Espírito Santo como intercessor diante de Deus. E o terceiro texto traz uma ordem, um preceito apostólico, determinando a prática contínua da oração. É tremenda a forma como estes textos são cheios de coerência entre si, e como, ao uni-los, chegamos a conclusões desafiadoras. Nesta meditação, abordarei algumas destas conclusões, e oro sinceramente que o Senhor revele outras a cada um que lê, e que Seu corpo seja mutuamente edificado.
            A primeira conclusão é a de que Jesus deixou não só o exemplo da oração incessante, como nos legou um princípio fundamental da oração: ela não deve apenas ser feita em Seu nome, mas segundo a Sua vontade, com o mesmo objetivo da Sua encarnação, a saber: glorificar a Deus (Jo 14:13-14; 15:7; 1Jo 5:14). Sempre que eu abrir a minha boca para orar, ou mesmo fazê-lo em silêncio, este princípio tem que estar presente. Algumas perguntas práticas podem ser úteis: Jesus oraria por isso? Atender à minha súplica ou petição condiz com a vontade de Deus revelada na Sua palavra? Deus é glorificado nesta oração? Se alguma destas perguntas não puder ser respondida com um claro “SIM”, muito provavelmente a oração nem devesse ser feita. Claro que não estou sugerindo que fiquemos a cada momento de oração, fazendo um “teste” para validá-la. Isso seria impraticável. O que eu sugiro, e tenho aplicado à minha vida nestes dias é que o nosso dia-a-dia responda “SIM” a estas três perguntas o tempo todo. Então, as orações estarão sem dúvidas no padrão que o Senhor estabeleceu.
            A segunda conclusão é que a primeira é totalmente impossível para mim sem a intervenção poderosa do Espírito Santo. Não sou capaz de sondar meu coração, não sei discernir meus erros, e minha carne nunca quer fazer a vontade de Deus. (Jr 17:9-10; Sl 19:12). Minhas orações, por mim mesmo, refletem as minhas limitações, o meu coração corrupto e perverso, as minhas concupiscências, o meu desejo de auto-realização. Preciso então da operação do Espírito Santo em cada oração que faço, para que ela chegue aceitável a Deus. Preciso, como disse um antigo pregador, que o Senhor Jesus lave minhas orações com Seu sangue, e com Sua santa assinatura, elas se tornem válidas diante do trono de Deus.  Mas, veja bem, não dependo de Deus apenas para adequar minhas orações; preciso Dele até mesmo para desejar orar (Fp 2:13). Na verdade, há em mim (em nós) um misto de fé e incredulidade. E esta parte de incredulidade muitas vezes me faz tomar diversas atitudes e realizar inúmeras atividades sem colocá-las diante de Deus. Porque digo incredulidade? Porque orar, em essência, é admitir minha insuficiência naquele ponto, é dizer: Senhor, eu oro a Ti, porque de mim mesmo não posso esperar nada. É confessar diante de Deus que aquilo pelo que oro é algo fora do meu alcance, mas ao alcance Dele. Portanto, quando eu deixo de orar em determinada situação estou, na verdade, dizendo a Deus que, naquele ponto eu me viro bem sozinho. Naquela questão eu sou suficiente, meu conhecimento, ou experiência bastam. Isso é ou não é incredulidade, no seu conceito mais elementar? Claro que é! Na hora do perigo, do risco iminente, à beira da morte ou de alguma outra situação desesperadora, certamente recorro à oração. Aliás, quem não recorre? Até o ímpio reconhece o poder de Deus na hora em que se vê completamente perdido. A pergunta é: em algum momento, sem Deus, não estamos completamente perdidos? Concluo, portanto, que não apenas não sei orar como convém, mas também, em boa parte das situações, não quero orar. E se Deus, na Sua infinita misericórdia e por Sua graça, não operar em mim, qualquer esforço meu será inútil. Qualquer oração será não só vil, mas ineficaz.
            A terceira conclusão advém das duas primeiras, e atende perfeitamente ao preceito apostólico de orar incessantemente. Concluímos que somos chamados a uma vida dedicada à obediência ao que Cristo disse e fez, a uma vida totalmente sujeita à vontade de Deus, a uma vida com a finalidade de glorificar a Ele (Ef 1:4). Concluímos que a oração é fruto desta vida, e que ambas, vida e oração, são geradas em nós pelo próprio Senhor, que dependemos inteiramente Dele para querer esta vida, para realizar cada oração. Como, então, não será incessante a nossa oração? Como dar cada passo em nossas vidas sem colocá-lo diante de Deus? Como acordar sem, antes de levantar, agradecer a Ele por mais um dia de vida, dádiva que, com certeza, não merecemos? Como sair de casa para trabalhar sem pedir a Sua presença conosco no trânsito, nas demandas profissionais? Como você, dona de casa, pode começar seus afazeres sem declara a total dependência Dele? Como você, Pai, ou Mãe, imagina proteger seus filhos, guardá-los de cada mal que espreita em cada esquina, sem rogar a Deus por eles? Como você, estudante, tem a pretensão de absorver algum conhecimento, se Ele não lhe conceder a aptidão para tal? Como cada um de nós tem a expectativa de cumprir o “Ide (ou Indo)” de Mateus 28:18-20, se não pedirmos que Ele fale através de nós? Ora, queridos, eu poderia elencar aqui cada minuto das nossas vidas, e em todos eles, sem exceção, fica evidente a nossa necessidade de Deus. E cada instante em que me esqueço disso, em que eu não declaro isso (e eu declaro isso orando), eu me levanto contra a soberania de Deus, e digo a Ele: agora eu não preciso de Ti. Isso aqui eu resolvo só. Pode deixar. E tantas vezes eu tenho dito isso a Deus… e em todas estas vezes eu estou redondamente enganado. E em todas elas eu peco.
            Este texto de hoje expressa, além da gratidão já dita, um profundo e sincero arrependimento pelas vezes em que eu pequei contra meu Senhor, por não orar, por não colocar diante Dele a minha vida. Que a contrição que eu sinto hoje alcance vocês, pela graça de Deus, e que, por meio Dele, cheguemos juntos à vida abundante que Ele nos chamou para viver. Eu tenho fé que chegaremos lá, até que Ele venha!
            E Ele vem! E vem sem demora!

(escrito em 19 de setembro de 2012)

Um comentário:

Unknown disse...

Não sabemos orar como convém. E não conseguimos encontrar em nós mesmos o desejo de orar, nem mesmo a fé para orar. O Espírito Santo é que opera em nós tanto o querer quanto o realizar. O buscamos pq Ele nos buscou primeiro para que O buscassemos!! tremendo isso!! Não existe poder NA oração e sim naquele a quem ela é entregue. O Senhor deve ser o centro de tudo. Que Ele gere em nós dia a dia sede e fome da Palavra e desejo de estarmos em Sua presença.