31 de outubro de 2012

Do Deserto



“Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.”  Mt 4:4
“Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o SENHOR jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o SENHOR teu Deus te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem.”  Dt 8:1-3
“Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao SENHOR teu Deus pela boa terra que te deu. Guarda-te que não te esqueças do SENHOR teu Deus, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se eleve o teu coração e te esqueças do SENHOR teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem;”  Dt 8:10-16
“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar. E todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de uma mesma comida espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. Mas Deus não se agradou da maior parte deles, por isso foram prostrados no deserto. E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber, e levantou-se para folgar.” 
1 Co 10:1-7

            Nestes dias onde conceitos empresariais de prosperidade são espalhados no que se autodenomina programação evangélica, onde se anuncia a “garantia” de que, uma vez tendo “aceitado” Jesus (nunca vou conseguir entender de onde se tirou a idéia de que o decisionismo é bíblico), o homem tem pela frente uma vida onde seus débitos serão pagos, seu emprego restituído, seus desejos de consumo supridos, seu padrão de vida elevado, o deserto, quando surge em livros, pregações e músicas, surge como algo transitório, sempre seguido de bonança, de gritos histéricos de “Faz Chover”, para transformar este deserto em manancial, e vivermos um verdadeiro oásis na terra. Meu entendimento, contudo, do que significa o deserto, tem pouco ou nada a ver com o que está difundido no meio “gospel”. E acredito ser muito mais sintonizado com que diz a Palavra de Deus.
            Antes eu achava que deserto era exatamente isso que falei acima: minha vida cristã seriam períodos de deserto intercalados por períodos de manancial e, conforme eu fosse crescendo no conhecimento de Jesus, minha vida sendo santificada, menos “desertos” eu teria.  Mas, lendo estes textos que destaquei acima, orando e meditando neles, entendi que não.  
Quando lemos o texto de Deuteronômio, vemos logo no começo que Deus nos deu seus mandamentos com três objetivos: termos vida, frutificarmos e possuirmos a terra prometida. E os mandamentos deixados por Jesus têm estas mesmas três finalidades.  O Senhor guiou os israelitas pelo Deserto, não para que eles desfrutassem do deserto, mas para que eles alcançassem a terra prometida, vivendo com Ele e dando frutos para Ele. A terra prometida, amados, a Canaã, para nós, é a Jerusalém celestial, a vida eterna com Cristo, as bodas do Cordeiro. Nesta perspectiva, o deserto não é uma fase da minha vida, mas toda a minha estada na terra, após ser liberto da escravidão do pecado (meu Egito, por assim dizer). Enquanto eu estiver nesta terra, estou no deserto. O Senhor está comigo, Ele me alimenta, me dá refrigério, ilumina os meus caminhos. Mas isso não faz o deserto deixar de ser deserto. O deserto é uma passagem, e nele eu devo ter vida (comunhão com Deus) e frutificar, até chegar onde eu devo morar, por toda a eternidade. A Palavra diz ainda que no deserto eu serei humilhado e provado, para que o Senhor veja onde está o meu coração e quão fiel eu sou aos Seus mandamentos. Para que eu entenda de onde vem o meu sustento.
Se tenho consciência de que toda a minha peregrinação na terra é deserto, corro muito menos risco de me acomodar, de me deixar seduzir pelos seus apelos, seus tesouros, suas promessas falsas de conforto. Se sei que é deserto, minha promessa não está aqui, aqui está a minha missão diante do Senhor: viver para Ele e dar frutos. Se sei que é deserto, farei tudo para cumprir minha missão aqui e chegar à Canaã o mais rápido possível, e temerei muito não chegar lá.
Preciso entender o deserto como o processo através do qual o Senhor me conduz à vida eterna. Não como intervalos na caminhada, mas como toda a caminhada. Vida na terra é deserto. Eternidade com Cristo, manancial. Promessas? Não são para o deserto. No deserto, não sentirei falta de nada, pois Ele é o meu pastor. Se eu tiver fome, Ele fará chover maná; se eu tiver sede, Ele fará minar água da pedra. No Deserto, ao invés de procurar promessas, devo procurar fazer o que Deus mandou, desejar ser aprovado por Ele, manter meu coração Nele, guardar os mandamentos Dele. E tudo isso será para o meu bem.
Devemos temer a exortação de Paulo no texto aos Coríntios. Foram chamados de idólatras os que pararam a caminhada para se entreter. A caminhada cristã não é um passeio turístico. É uma batalha. É guerra! Nosso prazer deve ser o de fazer a vontade de Deus. Alegramo-nos durante a caminhada, porque amamos os irmãos, porque somos gratos ao Senhor.  Nosso gozo está no cumprimento da nossa vocação, está em ter comunhão com Deus e multiplicar a Sua vida.  As coisas más citadas por Paulo são tudo o que desejamos do deserto. O deserto é nossa passagem, não nossa morada. Não desejemos nada de lá. O homem não pode receber nada, se do céu não lhe for dado (Jo 3:27).
O que você tem desejado para a sua vida: aquilo que vem do céu, ou as ofertas do deserto? Como você tem passado pelo deserto? Como um turista, ou mesmo alguém que está construindo sua casa nele? Ou como um soldado, marchando incansavelmente, sem se distrair, rumo ao seu alvo?
Não fomos chamados para construir nossa morada no deserto. No deserto, levantamos acampamento. Nossa morada, Jesus está preparando (Jo 14:2). Nada que o deserto possa oferecer, se compara a esta promessa.
Então, no deserto que é a sua vida hoje, mantenha o seu coração em Jesus, viva em constante comunhão com Ele, multiplique a Sua vida! Esteja sempre pronto a se humilhado, provado, a depender completamente do Senhor! Não se distraia com os apelos desta terra, não pare de prosseguir para o alvo, não se entretenha, nem receba nada que não venha do céu! Faça isso por amor ao Senhor! Faça isso por um desejo intenso de estar com Ele na eternidade, o quanto antes e para sempre!
Faça isso até que Ele venha! E Ele vem! E a Sua vinda não demora!!
(escrito em 04/julho/2012)

Um comentário:

Unknown disse...

Que sejamos FORMADOS no deserto! e não conformados, apáticos, desanimados. TODAS as coisas cooperam pro bem daqueles que amam a Deus. Minha oração é pra que eu possa dizer no fim de tudo: "Agora meus olhos Te vêem!!"